domingo, 28 de março de 2010

Bicentenário do nascimento de quem originou o nome de minha mulher

"E Hermengarda sentia ao contacto daquela mão fria e trémula apertando a sua, no acento dessas frases, tempestuosas como o oceano, tristes como céu proceloso, que lá, no peito do vulto que tinha ante si, havia um coração de homem vivo, onde chaga antiga e cancerosa vertia ainda sangue. A espécie de pesadelo em que se debatia desaparecera com a realidade. O repentino impulso da sua alma foi lançar-se nos braços de Eurico".

Este extracto foi tirado de um dos mais famosos romances históricos portugueses, o "Eurico o Presbítero" (cuja resenha se pode baixar aqui) de Alexandre Herculano. Neste dia, 28 de Março de 2010, em que se comemora o bicentenário do nascimento dum dos maiores escritores lusófonos do século XIX, é com grande prazer que transcrevo da wikipédia o resumo da história de Eurico e Hermengarda:

O enredo conta a história de amor entre Eurico e Hermengarda, que se passa na Espanha visigótica do século VIII. Eurico e seu amigo, Teodomiro, lutam ao lado do rei da Espanha, Vitiza, contra os "montanheses rebeldes e contra a francos, seus aliados". Depois de vencer o combate, Eurico pede ao Duque de Fávila a mão de sua filha, Hermengarda, porém este recusa o pedido ao saber que se trata de um homem de origens humildes. Eurico, então, se entrega à religiosidade, tornando-se o Presbítero de Cartéia, para se afastar das lembranças de Hermengarda, através das funções religiosas e da composição de poemas e hinos religiosos. No entanto, quando ele descobre que os árabes estão invadindo a Península Ibérica, liderados por Tárik, alerta seu amigo Teodomiro e se transforma no enigmático Cavaleiro Negro. De maneira heróica, Eurico, agora Cavaleiro Negro, luta em defesa de sua terra e, devido a seu ímpeto, ganha a admiração dos visigodos e dos demais povos da península, agora seus aliados, e lhes dá forças para combater o invasor. Quando a vitória parece certa para os godos, Sisebuto e Ebas, filhos do imperador Vitiza, traem seu povo, a fim de ganhar o trono espanhol. Logo após, Roderico, rei dos visigodos, morre na Batalha de Guadalete e o povo passa a ser liderado por Teodomiro. Enquanto isso, os árabes invadem o Mosteiro da Virgem Dolorosa e raptam Hermengarda. O Cavaleiro Negro a salva quando o "amir" estava prestes a profaná-la. Durante a fuga, Hermengarda é levada até as Astúrias, onde está seu irmão Pelágio. Em segurança numa gruta de Covadonga, Hermengarda encontra Eurico e declara seu amor por ele. Contudo, Eurico não acredita que esse amor possa se concretizar, devido às suas convicções religiosas, e revela a real identidade do Cavaleiro Negro. Ao saber disso, Hermengarda perde a razão e Eurico, ciente de suas obrigações, parte para um combate suicida contra os árabes e enfrenta os traidores Bispo Opas e Juliano, Conde de Ceuta.

É óbvio que o grande Alexandre Herculano não escrevia sobre a minha Hermengarda, mas o danado é o responsável pelo invulgar, quiçá estranho nome de minha mulher!

É que meu falecido sogro, Augusto Barbosa Barros (vejam-no na foto ao lado), era um devoto e fervoroso admirador de Alexandre Herculano. Para além de ter dado à filha o nome de Hermengarda, quando foi morar para Portugal não deixava de ir em peregrinação todos os anos, por ocasião do falecimento do malogrado historiador, à Quinta do Vale de Lobos (onde Herculano viveu seus últimos dias).

Pode baixar em Pdf o "Eurico o Presbítero" de Herculano, clicando aqui.

domingo, 14 de março de 2010

Que j'aime à faire connaître ce nombre utile aux sages



Acordei sorrindo ao me aperceber que neste dia 14 de Março, morria em 1883 o pai do comunismo (Karl Marx) e nascia em 1990, o MpD (partido liberal do nosso modesto espectro político).

Afastei mentalmente esta mania minha de harmonizar efemérides e dirigi-me ao jardim interior de minha casa (o quintal) onde, entre outros seres viventes, também se encontram aves decorativas e canoras. Entrei na ampla gaiola destes emplumados para deles cuidar, e eis que minha filha bate-me uma chapa surpresa, que resultou na fotografia que vos apresento em cabeçalho.

Após os matinais cuidados disponibilizados aos coloridos pássaros, resolvi sentar-me debaixo do caramanchão formado por videiras de uvas brancas, numa cadeira de lona virada para a gaiola, a observá-los e a ouvi-los cantar. "Pi, pi, piiii..." soava a caturra, "criiik...crik crac cric" metralhavam os fishers, e os rosicolers "zen, zeen, czzz" ritmavam os mandarins e "sherlii, scherliu chiu..." contrapunha o bengalim macho.

Precisavam de um maestro, tal a desorganização dos sons e dos cantos. Aproxima-se a primavera e eles mais se preocupam com encontrar pequenos ramos e cordéis para confeccionar os ninhos. "Looking for straws" em vez de "Sounding like Strauß" pensei eu com os meus botões, enquanto lia no meu tablet PC que Johann Strauss (pai) nascera a 14 de Março de 1804 (há 206 anos).

Lembrei-me que tinha lido num dos famosos livros da colecção "Ver & Saber", deleite da minha adolescência, que a harmonia musical estava intimamente ligada a frequências proporcionais e perfeitamente calculáveis com bastante precisão e grau de previsão.

Tratava-se do livro "Números e Figuras". Documento precioso que despertou em mim o gosto pela matemática. Li-o quando tinha 10 anos! Numa linguagem simples, fazia a correlação entre factos da vida quotidiana e noções basilares do mundo matemático. É pena que hoje em dia já não se fazem livros tão preciosos como esses.

Um desses capítulos, o que mais me impressionou, foi o da descoberta do número π (pi) . Este número irracional é mesmo estranho; uma dízima infinita não periódica, um número aproximado cujos algarismos após a vírgula tem vindo a ser objecto de muita paixão.

3,1415926 lá o íamos decorando nós no liceu. Hoje os melhores computadores já calcularam um trilhão de algarismos após a vírgula! 3/14 - March 14th, é o dia escolhido em 1988 por Larry Shaw, físico americano do Museu de Ciências Exploratorium, em São Francisco, para o "Dia internacional do Pi". O auge desta festa é em 3/14 às 1h 59mn e 26s, (vejam a foto ao lado). Há quem tente recitar o número pi com centenas de algarismos!

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Malucos esses físicos e matemáticos diriam vocês. Mas é um desses malucos que me inspirou bastante: o que disse que um grama de matéria convertido em energia, daria para iluminar uma lâmpada de 100w durante 40 mil anos! Trata-se de Albert Einstein, o mais memorável físico de todos os tempos! Hoje, também se comemora o aniversário de seu nascimento: 14 de Março de 1879.

Assim como estes físicos, gostaria de "fazer conhecer este número útil aos de bom senso":

Que3 j'1 aime4 à1 faire5 connaître9 ce2 nombre6 utile5 aux3 sages5

os algarismos a vermelho (nº de letras na palavra) são os primeiros do número Pi, com dez casas decimais!


E agora, o que haverá de comum entre os "malucos" a seguir retratados em friso?:



  • Adoram Matemática
  • 14 de Março lhes é importante
  • Têm cabelos grisalhos, compridos e desgrenhados
  • Têm caras passíveis de caricatura e parecem muito divertidos
  • Aprenderam a língua alemã
Agora vou vos deixar com uma marcha dedicada a um glorioso marechal austríaco, que durou 70 anos no exército e naturalmente, falava também alemão: o Marechal Josef Wenzel Radetzky von Radetz.

A marcha chama-se Marcha Radetzky e é considerada a obra prima de Johann Strauß (sénior). A orquestra é a Filarmónica de Viena, dirigida por Georges Pétre, em concerto do ano novo de 2010:



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