domingo, 26 de julho de 2009

A "laranjite" que previne a laringite: da Laranja-Baía ao Grand Marnier

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Durante a minha infância não comia frutas. Além de ser alérgico à banana, várias frutas coçavam-me a garganta, pois tinha no fundo da mesma, uma cicatriz resultante de uma flauta que lá se espetara, após uma queda minha ao pular de uma cama para outra enquanto a tocava.

Nesta época paranóica da gripe A recomenda-se porém, muita vitamina C. E uma das fontes mais conhecidas desta vitamina é sem dúvida a laranja. Comer muita laranja é bom preventivo para a gripe e para infecções da garganta (laringites por exemplo). Raramente me constipo e minha garganta esteve sempre de boa saúde. Talvez porque, embora detestasse as frutas, adorasse uma única entre elas: a laranja! Geralmente as da terra, eram de casca verde e tons de amarelo, ora doces, ora ácidas (comia estas com açúcar). Raramente víamos as laranjas europeias; que esquisitas eram elas, assim tão ... cor-de-laranja! Achava estranho falar-se dessa cor como sendo a da laranja! Uma laranja era "verde com manchas amarelas!".
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Nesses bons velhos tempos, a minha avó Candinha trazia do mercado, umas enormes laranjas que vinham da Cidade Velha. Eram muito doces, autêntico mel, sem sementes e com uma espécie de protuberância umbilical muito engraçada e característica. Estou a falar da laranja de umbigo, conhecida entre nós por laranja-baía. O nome vem da Baía, estado brasileiro onde esta espécie citrina é abundante. Ali também estas laranjas são cor-de-laranja (ver foto ao lado).

É curioso como a laranja foi uma fruta "fabricada" pelo Homem, na antiguidade, através de cruzamentos de outras espécies. Mais curioso é que actualmente as laranjas são referenciadas como da Califórnia, da Flórida, de Israel, de Marrocos, do Hawai, etc e não da Índia, donde ela é originária! Vejam o que se diz desse fruto nas enciclopédias da Internet:
"A laranja doce foi trazida da China para a Europa no século XVI pelos portugueses. É por isso que as laranjas doces são denominadas "portuguesas" em vários países, especialmente nos Bálcãs (por exemplo, laranja em grego é portokali e portakal em turco), em romeno é portocala e portogallo com diferentes grafias nos vários dialectos italianos" [artigo inteiro aqui]
Hoje, já como várias frutas, mas a laranja continua a ser a minha preferida. Ao natural, em sumos, em bolos, em gelados, em doces e até em bebidas, não perco a ocasião de apreciar esta divina fruta!
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A propósito de bebidas com laranja, assinalo dois fantásticos licores franceses com base em laranjas: o Grand Marnier e o Cointreau . Faça clique nos links e saberá da história e da composição destas maravilhas. Uma das diferenças, é que o Grand Marnier é um cognac aromatizado com laranja, e o Cointreau é uma aguardente com óleos extraídos de cascas de laranja maceradas.

Falando de cascas de laranja, há dois meses comi um doce de cascas de laranja, feito por Garda e ao qual sugeri que lhe deitasse um cálice de Grand Marnier na calda do açúcar, antes desta tomar o ponto. Ficou uma maravilha! Não vos dou ainda a receita, mas para que fiquem com água na boca, aqui vai a fotografia tirada:

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domingo, 19 de julho de 2009

Un flamboyant métro qui va de Praia à la Lune

Hoje, 19 de Julho 2009, olhei pela janela da nossa casa e voei (minha imaginação e memória) até à Lua num Metro flamejante ! Vejamos primeiro o que da janela vi:


Uma imagem contrastante! Entre o verde das copas se denota uma árvore repleta de flores vermelho-lume. A beleza dessa árvore, contrasta também com "aquela coisa" feia, no centro de um canteiro sem plantas, poeirento e atapetado de placas de cimento.

A árvore em destaque, é conhecida no seio dos entendidos, por acácia rubra. Minha mãe ensinou-me se tratar da árvore de Santo António, por florir no mês de Junho, encontrando-se no seu apogeu floral, por ocasião do 13 desse mês, dia de Santo António. Esta árvore é originária da ilha de Madagáscar e é muito vista por todo o mundo lusófono. Seu nome científico é Delonix regia devido à sua majestade (regia) e ao evidente (do Grego delo) aspecto ungulado (do Grego onix) de suas flores. Flamboyant é o nome francófono, a fazer jus à sua presença flamejante e ao caracter exuberante (palavra aplicável à árvore e a pessoas). Esta árvore embeleza sobremaneira as nossas paisagens, como podem ver na foto ao lado, tirada em São Jorge dos Órgãos.
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Flamejantes seriam também as chamas do Apolo 11, a missão espacial histórica cujos 40 anos se celebram nestes dias. Amanhã, dia 20 de Junho, completam-se 40 anos após a primeira vez que o ser humano pisava o solo lunar. "That's one small step for a man, one giant leap for mankind" a emblemática frase de Neil Armstrong que assinalava este extraordinário facto:

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Tinha eu 11 anos quando isto aconteceu. Nessa altura, alcatroavam-se as ruas da Praia (a cidade limitava-se ao que agora se chama de "Plateau"). Lembro-me de passar horas esquecidas a observar a máquina alcatroadora e seu operador mor, a "regar" de alcatrão líquido, pegajoso e fumegante, o leito de gravilha colocado sobre o pavimento calcetado das ruas. O tal operador, era um Português típico, baixo, anafado, sanguíneo, de patilhas acentuadas, chapéu negro e casaco ensebado de pele. Talvez Alentejano, lá estava ele a alcatroar as ruas do "Ténis" (então bairro da cidade) quando, conversa puxa conversa, lhe disse eu que o Homem acabava de poisar na Lua. Maldito momento esse em que resolvi dar essa notícia. O homem ficou danado, chamou-me de aldrabão, e à medida que insistia eu na notícia, mais vermelho ficava até que me enxotou com o casaco dizendo não admitir que um pirralho fizesse pouco dele! NB: há quem até hoje não acredita e há quem alegue que foi tudo uma encenação forjada (ver aqui). Mas podem ler aqui a contra-resposta.

Corri logo para a praça em frente da casa de minha avó. Gostávamos de brincar nessa praça, cheia de lugares para se esconder, como n' "aquela coisa" de que vos falei no início deste artigo. Vejam-na na foto ao lado; tratava-se de uma casa de banho pública subterrânea, naquela época bem cuidada, cheirando a creolina. Nhu Pedro, o guarda zarolho e coxo que de vara em riste nos afugentava dos canteiros, não deixava que nenhum andrajoso fosse para lá dormir, ou fazer coisas que não devia. Anos depois, já após a Independência, este local passou apenas a mictório (engraçada a placa que "em bom português" ostentava a palavra "urinor"). Quando se transformou num lugar ainda mais fétido e covil para vícios inconfessáveis, o subterrâneo foi pela edilidade de então, literalmente gradeada!

Esse urinório, pelo seu carácter subterrâneo e pelo aspecto de sua entrada, evocava o Metropolitano. Era o "Metro da Praia" para as crianças jocosas da pequena burguesia da época. Havia mesmo quem acreditasse e fizesse a ingénua pergunta: "Onde é que vai dar?" a que respondíamos divertidos: "à Praia-Negra!" (NB: o local onde iam cair os esgotos municipais). A propósito, hoje é aniversário da inauguração do Metro de Paris. Conhecido originalmente como o "Chemin de Fer Métropolitain", começou a operar em 19 de Julho de 1900 com apenas oito estações da Linha 1, ligando a zona leste à oeste: Porte de Vincennes a Porte Maillot. Várias vezes fiz este percurso, quando estudava em Paris; ainda (em 1981) a linha tinha algumas carruagens de 1900!


Por todas estas recordações e efemérides do dia, é que minha imaginação "foi à Lua num Metropolitano flamejante!"
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domingo, 12 de julho de 2009

Modigliani ... tout court!

Por mais que queira fugir às tentações de me inspirar nas efemérides do dia para evocar momentos singulares do meu percurso existencial, não consigo escapar desta vez a mencionar o sublime momento em que assisti a um discreto mas marcante filme: Modigliani (nascido a 12 de Julho de 1884). Eis a sinopse:
Estamos em 1919. A Grande Guerra acabou e a vida nocturna em Paris está cheia de paixão escura e obsessão descontrolada. No café Rotonde, o refúgio dos artistas, encontramos uma mesa, como qualquer outra na história: Picasso, Rivera, Stein, Cocteau, Soutine, Utrila e Modigliani.Esta é a história da rivalidade entre Modigliani (Ande Garcia) e Picasso (Omid Djalili). Dois Homens cuja inveja um do outro é alimentada pelos seus brilhos, arrogâncias e paixões.É também a história da maior tragédia amorosa na história da arte. Jeanine Hebuterne (Elsa Zylberstein) era uma jovem e bonita rapariga católica, cuja única falha, segundo seu pai, foi apaixonar-se por Modigliani, um judeu.O pai de Jeanine envia secretamente para um convento num lugar longínquo o seu filho e de Modigliani.Ao mesmo tempo, Paris prepara-se para a competição anual de Arte. O prémio é dinheiro e uma sólida carreira. Até este momento Picasso e Modigliani nunca concorreram porque eram Picasso e Modigliani. Mas agora Modigliani e Jeanine tém de salvar o seu filho. Bêbado e com raiva, Modigliani inscreve-se na competição. Face a isto Picasso inscreve-se também. Paris torna-se frenética de excitação!
Mas, porque me impressionou este filme? ... Porque, tratando-se das rivalidades entre dois amigos talentosos, com laivos de inveja à mistura e com perfis comportamentais e familiares bem diferentes, me fizeram lembrar os meus primeiros anos de puberdade. Eis o caso:

Meus três últimos anos da escola primária, fi-los numa escola particular, a "escola da Dona Eulália", onde éramos uma quinzena de crianças. Fomos bem treinados e éramos excelentes alunos. Um de meus colegas destacou-se ainda como um chefe de fila, brigão e líder das traquinices. Já nessa altura considerava-me como rival académico. Tornámo-nos amigos, pois nossas mães o eram e frequentávamos as casas um do outro. Um belo dia, em plena sala de aulas, o dito-cujo não gostou de uma das minhas jocosas/sarcásticas provocações e desafiou-me para uma briga, mais tarde, lá na praça (a em frente da minha casa - ver cabeçalho deste blog). Atarracado e com físico de Maradona (até com ele se parecia), meu amigo, rapaz de brigas, iria certamente dar -me uma valente sova! Lembrei-me de que ele gostava de dar socos no ventre do adversário e lá me precavi "forrando" minha barriga com uma tampa metálica duma caixa de chocolates. Porém, antecipando a cena da mão dorida após o 1º soco, não resisti em revelar o "segredo" a um dos outros rapazes, que tinha por leal amigo. Só que este era mais leal ao brigão e no momento H contou-lhe o "segredo". Claro que a primeira coisa que o fulano fez, foi retirar-me a lata, e em seguida iniciar a tal sova. Recusei-me a brigar e o incidente não passou de um soco. Meu pai (brigão no seu tempo) disse-me que eu era sim, um "latoso"!

Quando no ensino secundário entrámos, este meu brigão amigo, rivalizava-se comigo para ser o melhor aluno do ano e da escola. Uma vez, ele apanhou uma melhor média que a minha no 1º período e todo ufano, se vangloriava disso, parecendo um pavão. Nos dois períodos subsequentes, suplantei-o, vindo a ser o melhor aluno do então Ciclo Preparatório. O indivíduo não se continha em verbalismos pouco abonatórios a meu respeito! Isso me dava um grande prazer. Contudo éramos amigos e estudávamos juntos, quer em casa dele, quer na minha. Mandáva-mos buscar de Lisboa, os famosos "pontos" resolvidos, da Porto-Editora e treinávamos juntos a sua resolução. Era uma competição sadia e fazíamos jogo limpo!

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Por isso, a história desse filme trouxe-me estas valiosas recordações. Não foi pela arte de Modigliani, que foi capaz de transformar a beleza de sua mulher (foto à esquerda) nesta pintura (à direita), porém considerada obra-prima.

Vejam agora um extracto do filme onde se vê o genial artista a pintar esse quadro.


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domingo, 5 de julho de 2009

Reluzentes medalhas de mérito e 5 de Julho

Quando era criança, passava o dia em casa de minha avó materna (hoje minha casa) onde a "sala de visitas" permanecia fechada e às escuras, só se abrindo para limpeza semanal ou para ... visitas, claro! A cada vez que isso acontecia e me encontrasse por perto, lá me apressava eu a entrar na dita sala para ir admirar as fotos de meus antepassados e em particular a de meu trisavô Francisco Cosme Nunes, pelas bigodaças do sujeito e pelas medalhas que ostentava. Muitas perguntas fazia eu sobre estas medalhas. NB: poderão saber mais sobre esse almirante de palmo e meio num artigo que publicara muitos meses atrás, neste blog: (Nhu Cosmi acaba por se casar com a crioula Mariana).
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Assim aprendi que as medalhas eram objectos que, tal como taças e diplomas, premiavam ou assinalavam feitos ou contributos meritórios daqueles que o recebiam. E via com orgulho, meu pai receber taças e diplomas de rádio-amadorismo (ver outro artigo que publicara antes: Os primeiros rádio-amadores de Cabo Verde).

Quando entrei no ensino secundário, pude sentir na pele a sensação de receber diplomas de mérito (melhor aluno do Concelho da Praia por exemplo) e devido às minhas lides genealógicas, descobri diversos parentes que receberam condecorações e diplomas de mérito.

Várias vezes já falei do contributo que Hilário Brito deu para a área das telecomunicações. Várias vezes tomei conhecimento de cerimónias solenes (por ocasião do 5 de Julho, dia da Independência) onde o Presidente da República agraciava diversos cidadãos pelos seus contributos à Nação. Estranhava e ficava triste por não ver meu progenitor entre os agraciados, sobretudo por muitos deles terem sido protagonistas de feitos, bem mais modestos do que o contributo de Hilário.
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"Tudo aranha ten si sesta-fêra": é pois com manifesta satisfação, que tomei conhecimento, ontem dia 4 de Julho, que finalmente, Hilário Brito estaria entre os medalhados deste 34º Aniversário da Independência Nacional. Naturalmente, apressei-me a ir à cerimónia onde pude, não só pegar a medalha na mão, como tirar fotos históricas, ao lado do Presidente da República e de Hilário Brito.

Para finalizar este artigo, queiram ter a bondade de apreciar a seguir, a montagem feita a partir da reportagem realizada pela TCV sobre a citada cerimónia:


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