domingo, 19 de setembro de 2010

Elucidativos envelopes do 1º dia, PAIGC e burros "anotados"

Já ninguém liga ao 19 de Setembro aqui em Cabo Verde! Esta data é histórica para a existência do nosso país como Estado independente: é a do aniversário da criação do PAIGC por Amílcar Cabral e por outros cinco camaradas:

  • Amilcar Cabral
  • Aristides Pereira
  • Luís Cabral
  • Fernando Fortes
  • Júlio Almeida
  • Elisée Turpin
Antes do golpe de Estado na Guiné-Bissau, que resultou na cisão do partido e no fim da célebre, mas pouco convincente, "Unidade Guiné-Cabo Verde", a data era comemorada com pompa e circunstância. Já no 2º ano de nossa independência calhou o XX aniversário da fundação do PAIGC e mais um selo comemorativo foi lançado, com o seu respectivo "envelope do 1º dia". É com prazer que vos apresento aqui o lindo selo com a esfígie de Amílcar Cabral entre a Guiné e Cabo Verde: 


Mas a primeira vez que se comemorou esta data em Cabo Verde, foi em 1974, depois do "25 de Abril" mas antes da Independência, ou seja, em plena agitação política onde as forças da UPICV (União dos Povos das Ilhas de Cabo Verde) se degladeavam contra o PAIGC, causando a este sérias preocupações passíveis de um ardente desejo de neutralizar a UPICV pela parte do PAIGC. Os leitores poderão melhor entender a palavra "neutralizar" lendo o texto de José Luís Hopffer Almada no Blog Tertúlia Crioula (ver aqui), do qual isolo este extracto:
"A neutralização, que se queria definitiva e irreversível, dos responsáveis e apoiantes da UPICV materializa-se de forma cabal, nesses dias iniciais do mês de Dezembro de 1974..."
Confesso que os militantes da UPICV eram então, deveras impertinentes. Tinham a seu serviço a "Minerva de Cabo Verde", uma tipografia familiar e com bastante notariedade em Cabo Verde (ver histórico aqui e de seu fundador) e quase que quotidianamente lançavam um panfeleto muitas vezes demolidor das afirmações e ideias veiculadas em comícios pelos políticos e militantes do PAIGC. Tinham a vantagem da imprensa, cujo produto gráfico de alta qualidade,  contrastava com os panfletos policopiados do PAIGC.

Vejamos então um destes produtos gráficos que a UPICV lançou, no dia 19 de Setembro de 1974, para achincalhar o PAIGC e troçar de três de seus juristas, cuja eloquência e argumentação irritava os manda-chuvas da UPICV:
A simbologia inserida neste trabalho gráfico, poderá ser melhor entendida pela análise do seguinte extracto do texto de José Luís H. Almada atrás referido:
"...a UPICV proclamava-se como sendo de ideologia maoísta e pró-chinesa, e, por isso, posicionava-se como contrária ao “imperialismo americano”, considerado como aliado natural do colonialismo português e dos seus “fantoches spinolistas autóctones”, e ao “social-imperialismo soviético”, de cujo expansionismo e hegemonismo o PAIGC era considerado mero instrumento e peão políticos."
De qualquer modo, acho que devo homenagear o génio da tipografia que foi Aires Armando Leitão da Graça, irmão do lider histórico da UPICV, José Leitão da Graça. Aires, era o guru das artes gráficas dessa época, tendo gerido a Minerva como nunca alguém o fizera antes. Aires foi um dos 6 presos políticos que a "neutralização" conseguiu pôr atrás das grades do Tarrafal e fazer Portugal assinar um acordo reconhecendo o PAIGC como a única força política representativa do povo cabo-verdiano!

Embora tendo lhe sido reconhecido o estatuto de Combatente da Liberdade da Pátria, Aires morreu na miséria e bastante doente. Gostava imenso de fumar cachimbo e a melhor prenda que se podia levar-lhe durante a fase da doença, era um pacote de tabaco para cachimbo. 

Porém, sou um acérrimo lutador contra o tabagismo, e termino esta crónica com mais um elucidativo envelope do 1º dia, desta feita, sobre a "luta contra o tabagismo", lançado há 30 anos atrás, em 19 de Setembro de 1980:




1 comentário:

  1. Caro bloguista,
    Li e achei o tema tratado pertinente. A nova geraçao (a que faço parte) nao conhece estas historias, é muito mais intelegente dar a conhecer o que se passou na época, do que culparnos de nao se interessar ou de nao conhecer a historia de CV.
    Espero que haja outros textos semelhantes.
    De resalvar que na minha modesta opiniao este blog é uma excelente iniciativa do Sr. Reitor.
    Carlos Canash (canash.carlos@gmail.com)

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