domingo, 26 de setembro de 2010

Tim-tim por tim-tim, saibamos como aqui chega o Sol


Desde que passámos a ter criação de aves tropicais decorativas, não tenho descartado as oportunidades de me sentar no nosso jardim interior a contemplar os voos saltitantes desses seres alados e a ouvir os trinados e pios dos mesmos, numa autêntica terapia ornitológica. Muito melhor que qualquer ansiolítico para dissipar o stress, stress que é a causa de muitos dos ataques cardíacos e AVCs de que se ouve falar.

**

Justamente neste dia 26 de Setembro, dedicado à problemática das doenças cardiovasculares e em que se comemora o "Dia Mundial do Coração", resolvi ficar mais tempo a contemplar os pássaros e a tomar um pouco de sol. Às tantas, surge-me o meu filho Mauro a interpelar-me sobre esta prática, para ele absurda:

- "Não tens outra coisa para fazer? Pareces um velho!"
- "Antes pelo contrário! Estou a cultivar a minha juventude! Nada como o relaxe para se manter forte e saudável e sem problemas cardíacos" - ripostei eu com um sorriso de antecipação prevendo a tirada seguinte do adolescente:
- "Juventude?! com essa idade?! ... mas... com que idade se deixa de ser jovem?"
- " Até aos 77 anos ! atirei eu, pensando na célebre frase da revista Tintim: "a revista dos jovens dos 7 aos 77 anos""
- "Estás a gozar comigo!" lamenta ele

Então expliquei-lhe de onde tirara a ideia e pedi que aguardasse um pouco. Fui ao baú das preciosidades de minha infância e passados alguns minutos, lá estava eu a fazer a "entrega oficial" da colecção da revista Tintim (em versão portuguesa) ao meu adolescente rapaz. NB: "entrega oficial" pois ele já conhecia esta colecção que eu frisava sempre ser minha e não dele. Agora passa a ser dele e o acto foi fotografado pela irmã. O simbolismo do gesto tem seu valor, pois hoje é o aniversário do lançamento da versão original belga. Esta deu à estampa em 26 de Setembro de 1946, num dia em que se comemora a revolução belga de 1830 que conduziu esse país à independência.

E lá vem o Sol de novo, vejam a capa do Tintim belga: "Le temple du Soleil". É caso para dizer: "Here comes the Sun" como o dissera George Harrison, um dos Beatles, numa música de sua autoria e do mesmo nome, surgida pela 1ª vez no álbum Abbey Road. Este álbum, tornou-se célebre por ser o último álbum a ser gravado pela banda.

Também foi em Abbey Road que George Harrison se firmou como um compositor de primeira linha. Após anos a viver à sombra de John Lennon e McCartney, finalmente empunhou dois grandes sucessos com este álbum: "Here Comes the Sun" e "Something". Ambas foram regravadas várias vezes ao longo dos anos. Abbey Road foi lançado em 26 de Setembro de 1969, mas o tributo que faço neste dia de sol, é a Harrison. Vejamo-lo a interpretar, alguns anos após os Beatles se terem desmanchado, a música que lhe deu ... "um lugar ao sol":

**


domingo, 19 de setembro de 2010

Elucidativos envelopes do 1º dia, PAIGC e burros "anotados"

Já ninguém liga ao 19 de Setembro aqui em Cabo Verde! Esta data é histórica para a existência do nosso país como Estado independente: é a do aniversário da criação do PAIGC por Amílcar Cabral e por outros cinco camaradas:

  • Amilcar Cabral
  • Aristides Pereira
  • Luís Cabral
  • Fernando Fortes
  • Júlio Almeida
  • Elisée Turpin
Antes do golpe de Estado na Guiné-Bissau, que resultou na cisão do partido e no fim da célebre, mas pouco convincente, "Unidade Guiné-Cabo Verde", a data era comemorada com pompa e circunstância. Já no 2º ano de nossa independência calhou o XX aniversário da fundação do PAIGC e mais um selo comemorativo foi lançado, com o seu respectivo "envelope do 1º dia". É com prazer que vos apresento aqui o lindo selo com a esfígie de Amílcar Cabral entre a Guiné e Cabo Verde: 


Mas a primeira vez que se comemorou esta data em Cabo Verde, foi em 1974, depois do "25 de Abril" mas antes da Independência, ou seja, em plena agitação política onde as forças da UPICV (União dos Povos das Ilhas de Cabo Verde) se degladeavam contra o PAIGC, causando a este sérias preocupações passíveis de um ardente desejo de neutralizar a UPICV pela parte do PAIGC. Os leitores poderão melhor entender a palavra "neutralizar" lendo o texto de José Luís Hopffer Almada no Blog Tertúlia Crioula (ver aqui), do qual isolo este extracto:
"A neutralização, que se queria definitiva e irreversível, dos responsáveis e apoiantes da UPICV materializa-se de forma cabal, nesses dias iniciais do mês de Dezembro de 1974..."
Confesso que os militantes da UPICV eram então, deveras impertinentes. Tinham a seu serviço a "Minerva de Cabo Verde", uma tipografia familiar e com bastante notariedade em Cabo Verde (ver histórico aqui e de seu fundador) e quase que quotidianamente lançavam um panfeleto muitas vezes demolidor das afirmações e ideias veiculadas em comícios pelos políticos e militantes do PAIGC. Tinham a vantagem da imprensa, cujo produto gráfico de alta qualidade,  contrastava com os panfletos policopiados do PAIGC.

Vejamos então um destes produtos gráficos que a UPICV lançou, no dia 19 de Setembro de 1974, para achincalhar o PAIGC e troçar de três de seus juristas, cuja eloquência e argumentação irritava os manda-chuvas da UPICV:
A simbologia inserida neste trabalho gráfico, poderá ser melhor entendida pela análise do seguinte extracto do texto de José Luís H. Almada atrás referido:
"...a UPICV proclamava-se como sendo de ideologia maoísta e pró-chinesa, e, por isso, posicionava-se como contrária ao “imperialismo americano”, considerado como aliado natural do colonialismo português e dos seus “fantoches spinolistas autóctones”, e ao “social-imperialismo soviético”, de cujo expansionismo e hegemonismo o PAIGC era considerado mero instrumento e peão políticos."
De qualquer modo, acho que devo homenagear o génio da tipografia que foi Aires Armando Leitão da Graça, irmão do lider histórico da UPICV, José Leitão da Graça. Aires, era o guru das artes gráficas dessa época, tendo gerido a Minerva como nunca alguém o fizera antes. Aires foi um dos 6 presos políticos que a "neutralização" conseguiu pôr atrás das grades do Tarrafal e fazer Portugal assinar um acordo reconhecendo o PAIGC como a única força política representativa do povo cabo-verdiano!

Embora tendo lhe sido reconhecido o estatuto de Combatente da Liberdade da Pátria, Aires morreu na miséria e bastante doente. Gostava imenso de fumar cachimbo e a melhor prenda que se podia levar-lhe durante a fase da doença, era um pacote de tabaco para cachimbo. 

Porém, sou um acérrimo lutador contra o tabagismo, e termino esta crónica com mais um elucidativo envelope do 1º dia, desta feita, sobre a "luta contra o tabagismo", lançado há 30 anos atrás, em 19 de Setembro de 1980:




domingo, 12 de setembro de 2010

O caso da Fotografia Misteriosa

Neste Domingo, 12 de Setembro, abro o Fotolog e dirijo-me ao da minha amiga e prima, Amélia Monteiro, para encontrar esta fantástica fotografia:


O intróito da página de Amélia para este dia, começa assim:
"Achei interessante esta foto "preta" encontrada no fundo do baú e lembrei-me de fazer uma cópia. A foto foi feita no Fogo mas não sei onde teria sido revelada. Trata-se de uma foto feita sobre um papel brilhante e negro e a foto em si é só uma leve película que parece uma gelatina fina colocada sobre o fundo negro. Na reprodução não se nota bem. Olhando para o lado esquerdo a mancha preta é um pedaço da tal gelatina que já saiu. Quem conhece este sistema?"
Esta foto de 1933, é de Agnelo Henriques e António Macedo Barbosa, com suas respectivas famílias à frente. Agnelo Henriques foi um dos fundadores dos Sokols de Cabo Verde. Independentemente do imediato aproveitamento da foto para ilustrar a árvore genealógica que desenvolvo, (pois todos os da foto são parentes meus), fiquei curioso sobre o sistema desta fotografia misteriosa, que me fazia lembrar as tiras hawid que usava em filatelia para fixar os selos nas páginas dos álbuns.

Estas tiras são constituídas por duas películas plásticas, uma negra e aderente e outra transparente. Cortava-se (com uma guilhotina) a tira à medida do selo e introduzia-se este entre as películas com, obviamente, a face virada para a película transparente. Colava-se então a parte adesiva da película negra, no rectângulo do álbum reservado ao selo em questão. A parte negra e brilhante do fundo surgia circuncidante ao selo, dando a este todo o merecido realce e a parte transparente conferia uma muito melhor protecção que a das mais clássicas e baratas charneiras.

Ainda me lembro da alegria que tive ao colar um exemplar do primeiro selo de Cabo Verde na primeira página do álbum de selos da então província de Cabo Verde. O valor facial mais baixo dessa edição era o de 5 reis. Um selo gravado a branco sobre fundo negro, com a coroa portuguesa ao centro. Foi pena não ter podido completar a série destes selos, que foram lançados em Cabo Verde no dia 12 de Setembro de 1877, fazem hoje precisamente 133 anos. Resta-me o consolo de ter podido adquirir o envelope do primeiro dia dos selos comemorativos do "centenário do selo cabo-verdiano". Eis digitalizado o envelope que menciono:


Voltemos agora à fotografia que Amélia publicou. Mantém-se o mistério da técnica utilizada. Na realidade em 1933 já esta técnica estava ultrapassada, mas em Cabo Verde desse tempo, as coisas levavam muito tempo a serem usadas e as inovações demoravam a chegar. A técnica em questão era a do ferrotipo, inventada em 1853 e posta de lado no fim do século XIX:
"Processo constituído por um negativo de chapa húmida de colódio com um fundo escuro para a formação do positivo; mas ao invés de usar verniz ou pano escuro, era utilizada uma folha de metal esmaltada de preto ou marrom escuro, como suporte do colódio"
Veja o todo deste extracto (aqui)
Eis que se desvendou "O caso da Fotografia Misteriosa". Porém, não posso deixar de recordar um dos livros da colecção Vampiro que ostentava este mesmo título e que guardo religiosamente na ala da minha biblioteca dedicada aos livros policiais de Erle Stanley Gardner, um dos meus autores preferidos. Vejamos a sinopse:
" Livro de mistério policial lançado em 1934 da série Perry Mason pelo autor prolífico Erle Stanley Gardner. Um artista que promove concursos de beleza em cidades pequenas da Califórnia convence os comerciantes locais a doarem dinheiro para o evento, e à vencedora é prometido um contrato para um filme em Hollywood. N verdade, nenhum contrato existe, e o promoter evade-se com o dinheiro. Diversas mulheres jovens já cairam nesse esquema quando o Perry Mason é empregado para encontrar um delas, Marjorie Clune, que trabalhou no esquema e está tentando ela mesma sucesso em Hollywood. O promoter inescrupuloso do evento é assassinado e então, Marjorie transforma-se na principal suspeita."
Aquando da minha estadia nos Estados Unidos para fazer o PhD, tive o ensejo de desfrutar de várias "cerejas no topo do bolo" ao seguir as séries televisivas de Perry Mason, quer as a branco e preto (dos anos 60) quer as modernas, a cores (dos anos 80). Ambas eram protagonizadas pelo insofismável actor canadiano Raymond Burr. Sendo hoje o 17º aniversário do seu falecimento, deixo-vos com este clip, em homenagem ao fantástico actor:


*
*