domingo, 31 de agosto de 2008

Há 250 anos que o "Fonfon" tem nome científico

Como já é do vosso conhecimento pelo artigo (Kutum Ben Ben, dan papa pan dau leti...) que publiquei em Março 2008, desde cedo tive uma paixão pela entomologia, pelo que, além de estudar os insectos da terra, fazia colecção deles. Este gosto adveio da leitura (aos 11 anos) do livro "o Mundo dos Insectos" da colecção Ver e Saber da Verbo.

Um dos insectos que mais me apaixonava observar era o Fonfon, uma espécie de vespa de amarelo e preto que faz "casa-fonfon" de "papa-lama" pelos cantos dos quartos e debaixo dos móveis das nossas casas. Voltarei a este insecto daqui a pouco. Porque me lembrei então de falar dele? Eis a razão:

Estive hoje a arrumar as velharias que guardo e deparei com a caixa de insectos da minha colecção (a que apresento nesta figura de 1972) em deplorável condição: o tempo (36 anos) desfez a maior parte dos insectos. De imediato resolvi fotografar o que da caixa restava: vejam a figura anexa. Reparei então no insecto ao lado esquerdo da borboleta e lembrei-me do bicho e da data de sua classificação científica: Agosto de 1758 por Lineu. Trata-se do Sceliphron spirifex Linnaeus 1758. Vale a pena comemorar estes 250 anos e partilhar convosco a efeméride e os pormenores que se seguem:

A mulher-a-dias (sampadjuda do Fogo com a proverbial mania do "cau limpo e fréscu") que vinha limpar-nos a casa todos os Sábados, Lia Baptista de Sousa de seu nome, fartava-se de barafustar contra os fonfons que lhe tornavam a tarefa mais difícil, tal a sujeira deixada pelos ninhos de barro que aqui e ali implantavam. Olhava-me de soslaio quando lhe implorava para não destruir, pelo menos um desses ninhos, pois queria eu observar o evoluir da construção. De facto era algo maravilhoso seguir o trabalho destas vespas solitárias:


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  • Em seguida, o nosso fonfon carrega a bola de lama até ao sítio onde pretende construir o ninho e começa a trabalhar essa bola em anéis que irão formar células oblongas. Enquanto faz este trabalho emite um som típico: fon-fon-fon-foooon-fon, donde o nome onomatopaico que lhe deram aqui em Santiago. No Fogo "fonfon" é uma outra vespa e o nosso querido Sceliphron spirifex é em São Nicolau conhecido por "bananinha séca". NB: no Fogo o Sceliphron spirifex é conhecido por "custon fagássa".
  • Á medida que o fonfon termina uma célula, deposita dentro um ovo e vai à caça de aranhas saltitonas (os "cachorrinhos-lau-lau" por exemplo) e outras pequenas aranhas que caça sem piedade. Enche as células dessas aranhas vivas, mas por ele paralisadas (comida para o filhote) e tapa com lama.
  • Começa então a construção de uma nova célula. As células se empilham umas em cima das outras formando a tal casa fonfon que bem conhecemos. Como faz uma célula de cada vez, vai à caça e começa uma nova célula, muitas vezes não encontra a lama no mesmo sítio e a casa (ninho) tem várias cores (fazem-me lembrar algumas construções aqui do burgo).
  • Se quebrarmos uma destas casas, encontraremos células com as tais aranhas e com larvas de fonfon em diferentes estádios de metamorfose. É muito engraçado observar a reacção do fonfon quando regressa e encontra o ninho danificado: faz um ruído "fonfónico" estridente (como quem manda à pqp) e esvoaça desairado à procura do vândalo (é observar de longe, não vá a vespa ferrar o observador; mas o bicho não é agressivo). E depois se estranha que um insecto tenha... sentimentos!

Há uma outra espécie de fonfon em Cabo Verde que em vez de aranhas caça lagartas. Estes fonfons, são negros de antenas laranja e também fazem ninhos de barro. Esses ninhos são redondos (mais parecem igloos esquimós) e eles os dispõem uns ao lado dos outros.

Sem esquecer de mencionar os aspectos ecológicos das vespas, como os da luta integrada contra as pragas agrícolas, termino, remetendo-vos para uma página francesa com belas fotos do fonfon, que eles chamam de pélopée tourneur. Vejam mais fotos deste himenóptero: fonfon, vespa-oleira (em Portugal) ou também guêpe maçonne:
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domingo, 24 de agosto de 2008

Minhas marcas olímpicas

Terminaram, as fantásticas olimpíadas de Pequim 2008. Poucas palavras encontraria para exprimir a grandiosidade deste evento. Aliás para quê, se todos estamos ao corrente disto, pois é a actualidade e as tecnologias da informação e da comunicação não nos poderiam deixar na penumbra. Os jornais encarregar-se-ão de falar de Nelson Évora, de Michael Phelps e de Ussein Bolt; não deixarão em branco as 51 medalhas de ouro da China, os recordes batidos e o esplendor havido.

No que me diz respeito, apetece-me falar das primeiras olimpíadas que despertaram a minha atenção, as de Munique em 1972. Tinha eu quase 15 anos e os conhecimentos que adquirira sobre os Jogos Olímpicos, a classe especial de ginástica do Liceu Adriano Moreira, dirigida por Carlinhos Ribeiro (da qual faziam parte meu irmão Vavuca e Sidónio Monteiro) e o lindo selo editado pelos CTT (ver o envelope do 1º dia em cima), foram o bastante para que me interessasse com entusiasmo por estes jogos. Já entendia o suficiente de política mundial para ficar chocado com os atentados terroristas ocorridos nestes jogos. Mas o choque fora largamente atenuado pela emoção das notícias dos recordes batidos e da proeza de Mark Spitz ao ganhar 7 medalhas de ouro (superada agora por Phelps). Não tínhamos televisão e consolávamos com a rádio.

As olimpíadas seguintes, as de Montreal em 1976, apanharam-me em França e lá pude seguir alguma coisa pela televisão. Jogos olímpicos fracassados (boicote pelas nações africanas, mais de 2 biliões de US dólares de prejuízo financeiro, Canadá, o país anfitrião, não ganhou uma medalha sequer, a tocha acesa por um sofisticado aparato electrónico extinguiu-se com uma forte chuvada) tiveram porém como grande vedeta a romena Nadia Elena Comăneci, que foi a primeira a ter uma nota de dez num evento olímpico de ginástica artística.

Porém, nas férias de 1980, já licenciado em Química, pude assistir pela TV a cores, em Cabo Verde, no conforto da casa de meus pais, à célebre cerimónia de encerramento das Olimpíadas de Moscovo. Célebre pelo mascote Misha, cuja imagem a derramar uma lágrima fruto de placas movidas por participantes nas arquibancadas do estádio, foi inesquecível. Com a liderança dos Estados Unidos, estes jogos foram também boicotados, desta vez por 69 países, incluindo a Alemanha Ocidental, o Canadá e o Japão. Cabo Verde porém, seguiu e aplaudiu com emoção estes jogos camaradas, e até fez emitir uma lindíssima série filatélica em comemoração; vejam os envelopes do primeiro dia, da minha colecção, que vos apresento à guisa de despedida:



domingo, 17 de agosto de 2008

Homens elegantes, bonitos e sedutores da nossa árvore: I - Os Lisboa Santos

Algumas pessoas me perguntaram se pretendia valorizar também os "homens bonitos" da árvore genealógica. Respondi sempre que não saberia como apreciar esse "grau de boniteza" e que poucas fotos tinha. Porém, comecei um exercício de separar todas as fotos antigas, de homens que me pareciam semelhantes a galãs de cinema e constatei, surpreso, que as podia inserir em quatro grupos:
  • Dois dos grupos eram de descendentes, respectivamente, de duas irmãs, bisavós minhas do lado materno
  • Um outro grupo era de descendentes dos Reis de Sousa pelo meu lado paterno.
  • Um quarto grupo continha alguns afastadíssimos parentes e maridos de parentes (casos isolados)
Escolhi para hoje, os Lisboa Santos que descendem do meu bisavô José António dos SANTOS e da minha bisavó Maria de Jesus Barbosa REZENDE (ver foto à esquerda), pois os da outra bisavó obtiveram a "boniteza" pelo lado do primeiro marido, aquele que não é meu bisavô. Escusado será dizer (visto as bisavós serem irmãs) que a "boniteza" destes que hoje vos apresento, proveio do meu bisavô José António dos SANTOS, o primeiro filho do casal que juntou LISBOA a SANTOS: Áurea Maria LISBOA e António Manuel dos SANTOS. Irão reparar, nas fotos a seguir apresentadas, os olhos grandes e pestanudos dos LISBOA e a grande testa dos SANTOS.


Vou apresentar agora oito gentlemen, quatro são filhos do casal da foto e quatro são os respectivos filhos primogénitos (netos do casal). Saberão dizer quem é o respectivo pai? Basta com o rato fazer passar o cursor sobre a foto e esperar que se abra uma janela (ou então fazer clique na foto). Se seguir o link do "Quem sou?", irá para a página do indivíduo na da árvore genealógica.


---"Quem sou?"--- ---"Quem sou?"--- ---"Quem sou?"--- ---"Quem sou?"---



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domingo, 10 de agosto de 2008

Estive esta semana com os maiores genealogistas da Macaronésia


Tive esta semana o ensejo de receber em minha casa dois dos maiores genealogistas da Macaronésia: Jorge Forjaz e João Nobre de Oliveira.

Começo por vos falar de Jorge Forjaz, um historiador da ilha Terceira, várias vezes premiado pelas suas obras genealógicas. Este genealogista, publicou em co-autoria com António Ornelas Mendes, nada mais nada menos, do que 8.000 páginas de Genealogias da Ilha Terceira distribuídas por 9 volumes (ocupando mais de um metro de prateleira). Se seguir o link anterior, conhecerá um pouco mais da Genealogia e dos autores dessa grandiosa obra.

Este cientista é ainda autor de muitas outras obras genealógicas como por exemplo:
Forjaz esteve agora em Cabo Verde a fazer pesquisa genealógica com vista a nos surpreender um dia com mais uma obra digna da sua reputação.

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Contudo, nada como um cabo-verdiano para nos brindar com uma Genealogia das Famílias Cabo-verdianas. Este ilustre hesperitano é o Dr. João Nobre de Oliveira que, triunfalmente anunciou ter entregue o seu manuscrito no passado dia 31 de Julho. A sua obra terá também vários volumes e cobre mais de 200 famílias conhecidas em Cabo Verde. Oliveira esteve há dias comigo, e tive o privilégio de ter tido um cheirinho de sua obra nos ecrãs de meus computadores. É algo que vai ser notado e notório, à altura das grandes obras do género e da História de Cabo Verde. Eis o que Oliveira diz no seu fotolog:

Terminei

Terminei a minha maratona genealógica! Entreguei o manuscrito ao editor. Espero que tudo corra bem e possa ter cá fora as Famílias Cabo-Verdianas (Genealogia Hesperitana), antes do Natal. Vamos ver. E aproveito para pedir fotografias, principalmente de gente antiga, como algumas das que já apareceram neste fotolog. Como têm o meu mail enviem-nas legendadas em formato digital. Não é certo que inclua as fotos mas é melhor estar preparado.
Quanto a foto acima, o Director dos Serviços de Educação, Dr. Sou Chio Fai, foi uma das personalidades convidadas para transportar a tocha na sua passagem por Macau. E ele ofereceu a tocha a Educação (cada atleta ficou com a tocha que transportou, só a chama é que ia passando de tocha em tocha). Todos os funcionários puderam tirar uma foto com ela.

domingo, 3 de agosto de 2008

Pidjiguiti, apenas o vejo no selo



Nunca visitei esse "punho" mas admiro e prezo muito o selo cabo-verdiano comemorativo do 20º aniversário do Massacre de Pidjiguiti. O envelope do primeiro dia ainda é mais vibrante. Apreciem-no!

Mas ... já ninguém neste país (ou quase) se lembra da importância que a este dia (3 de Agosto) lhe davam os dirigentes do PAIGC aqui em Cabo Verde. Era até feriado nacional. Não sou o único a manifestar esta estranheza, vejam o que Miguel Barbosa apregoava há já um ano no seu blog Ziquizira:
"Lembro-me de que na escola primária tínhamos um texto alusivo a essa data e de quão importante era para a Historia de nosso país. Hoje em dia ninguém mais fala no Massacre de Pidjiguiti, nem sequer nosso partido africano que a toda a hora nos tenta convencer de que nos é credor da independência, no que parece ser mais uma tentativa (Camarada Estaline está entre nós!) de reescrever a História."
Ao que parece, os estivadores do porto de Pidjiguiti eram explorados e reivindicavam melhores salários das várias companhias exportadoras que precisavam de seus serviços. Vejamos um extracto do texto intitulado:

"...Acordo estabelecido, as várias firmas comerciais começaram a pagar aos marinheiros o novo salário. Porém, a Casa Gouveia não procedeu ao aumento e continuou a pagar pela tabela do ano anterior. Passaram-se meses e os marinheiros questionavam o gerente - na altura o ex-funcionário do quadro administrativo Intendente Carreira - sem resultados e até com uma certa sobranceria, tique que lhe deve ter ficado dos tempos de funcionário administrativo. Com o descontentamento a aumentar e ânimos cada vez mais exaltados se chegou à tristemente célebre tarde de 3 de Agosto de 1959."
Carreira
era nada mais nada menos que o conhecido e incontornável investigador cabo-verdiano António Carreira. É engraçado como a casmurrice deste valoroso cabo-verdiano deu origem à morte de 50 estivadores (segundo o PAIGC) e que muitos escamoteiam este facto infeliz na vida do conhecido historiador. Não foi ele que deu a ordem de matar, vejam mais esta parte da narrativa de Mário Dias:
"Entretanto, o comandante militar, tenente-coronel Filipe Rodrigues, chegado ao local inteirou-se da situação e, ao ver aquele grupo armado de remos, paus, etc. a marchar agressivamente em direcção à Casa Gouveia, deu ordens aos polícias para dispararem por ser a única forma de os deter."
Este texto do "furriel dos comandos Mário Dias, [que] foi um dos homens que esteve presente, quando o exército interveio em Pidjiguiti, e o seu testemunho é extremamente elucidativo, pois permite perceber o papel do exército neste drama, e filtrar a verdade dos acontecimentos", dá a visão de um português que mostra ter o PAIGC se aproveitado do facto para tirar dividendos políticos:
"O PAIGC aproveitou-se inteligentemente deste movimento, como sempre fez - o que só nos merece admiração - para conquistar mais uns tantos seguidores."
Não obstante as opiniões, o que é certo é que o dito massacre (politicamente aproveitado ou não) foi o ponto crucial da reviravolta da história em direcção à independência da Guiné e de Cabo Verde. Poderão disso se aperceber no clip de vídeo encontrado aqui e cujos 90 primeiros segundos se seguem:

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