domingo, 29 de março de 2009

O Bud cabo-verdiano saúda Trinitá

Quem se lembra de Trinitá? ... Pois é, o célebre cowboy das comédias italianas, personificado pelo actor Terence Hill (nome artístico) que contracenava com Bud Spencer, o mal humorado, anafado e barbudo companheiro de aventuras. Porque me lembrei então dessa dupla? É que nas minhas buscas de efemérides, deparei com o facto de Terence Hill (aliás Mário José Girotti) fazer hoje, 29 de Março de 2009, a bonita idade de 70 anos. Podem ver ao lado que o mesmo ainda está bem conservado.

Mas, a razão deste artigo prende-se mais uma vez com as coicidências de data (já proverbiais) de acontecimentos que me impressionaram ou de que fiz parte:
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Na tarde do dia 29 de Março de 1986, levei minha família a visitar meus pais, pois era um Sábado de Aleluia. Nessa altura ainda só tinha um filho, o Marcos Miguel, que a poucos dias de completar dois anos e seis meses, era já muito atento e expressivo. Usava eu uma copiosa barba (ainda escura) e parecia um foragido.

Sentámo-nos a ver televisão (um dos canais satélite que meu velho captava) e passava um filme da supracitada dupla, precisamente Altrimenti ci arrabbiamo! (1974), de Marcello Fondato (A Dupla Explosiva). Nisto, aparece a figura de Bud Spencer e Marcos exclama: "Olha o papáaa!"

Deixo-vos agora com uma das partes (8 de 10) mais castiças deste filme:

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Podem ver todas as partes deste filme aqui!

domingo, 22 de março de 2009

Os Beatles, meu vizinho Tadeu ... e muita água

Com "dôs águ na corpo" meu vizinho SANA sobe as escadas da entrada de minha casa a cantarolar uma ária dos Beatles. Vinha trazer-me uma prenda que, segundo ele, fizera vir dos Estados Unidos, especialmente para mim. Agradeci a gentileza, perguntei-lhe pelo John Lennon e ... foi o suficiente para uma longa conversa que, poderia ser regada com água ardente. Porém, em louvor ao dia de hoje, o Dia Mundial da Água, (comemorado a 22 de Março desde 1992), a conversa foi apenas regada com a boa e fresca água de nascente.

Não se inquietem, que o Jonh Lennon a que me referi, está vivo, reside nos USA e é o filho deste meu vizinho, não se tratando do célebre membro da banda de Liverpool. SANA é louco pelos Beatles e pela música rock. Aliás foi graças a ele que tive a ideia de lançar este blog (ver o primeiro artigo aqui). SANA, é muito conhecido em Cabo Verde pela sua habilidade em animar festas, concertos e festivais com a sua música descontraída e com bastante rock & roll à mistura. Actualmente, fundou um duo musical intitulado "Sana Pépas & Julai" que, de acordo com seu auto-marketing, é o melhor conjunto da cidade da Praia.

Vejamos agora, porque meu vizinho, de nome Tadeu Monteiro Fontes, é mais conhecido por "Sana Pépas". A resposta só poderia estar na esfera da Beatlemania: Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, abreviado Sargent Pepper's , o álbum de vinil mais conhecido dos Beatles! A sonoridade britânica do nome foi rapidamente creolisada para Sana Pépas, o nome de que ele até se orgulha. Assim, eis então o nome oficial do conjunto de Tadeu Fontes: "Sana Peppers & July".

Fiquei curioso com esta referência e preferência. Fui então procurar no You Tube a seguinte composição ilustrativa do citado álbum:

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Como tenho uma propensão pelas coincidências "efeméricas", eis que hoje fazem precisamente 46 anos que o primeiro álbum de vinil dos Beatles foi lançado: Please, Please Me. A Capa foi algo inusitado, pois, "George Martin, que tinha encanto pelo Zoológico de Londres, pensou que seria uma boa publicidade para o mesmo se os Beatles posassem para a capa do álbum diante da casa de insectos do Zoo, mas a Sociedade Zoologica de London não permitiu que isso fosse feito. Decidiu-se então que a foto da capa fosse dos quatro integrantes em um balcão da escadaria da EMI. Esta foto tirada por Angus McBean foi usada posteriormente para a capa da colectânea The Beatles 1962-1966."

Para terminar este artigo, convido-vos a apreciar um clip dos Beatles a tocar a canção que deu o título ao álbum:

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domingo, 15 de março de 2009

Será púdica a Mimosa?

Desde criança que a frase "toma sima nau-mi-toques" me impressiona. Esta frase era pronunciada geralmente em resposta a uma atitude com contornos de susceptibilidade exacerbada. Claro que cedo soube se tratar de uma planta cujas folhas se fechavam ao mais ligeiro toque. Sempre quis conhecê-la mas por muitos anos nunca tive o ensejo.

No início dos anos noventa do século passado, chefiava o Departamento de Recursos Naturais do Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento Agrário e tinha a tutela do primeiro jardim botânico da República de Cabo Verde. Foi então que pela primeira vez me cruzei com essa dama que ostenta o nome científico de mimosa pudica. Porém, só ali estavam dois exemplares e mesmo assim escondidos do público, no viveiro do Jardim!

Dezanove anos depois, numa das minhas visitas ao Jardim Botânico, lembrei-me de perguntar pela "sensitiva", outro nome da "não-me-toques". E levaram-me ao viveiro onde pude perceber num periclitante vaso, uma mirrada planta que provou ser a dita cuja, após um toque que lhe fiz.

Não resisti em filmar a coitadinha com a câmara de meu telemóvel, não vá ficar sem poder ter uma recordação visível da mesma. Embora se possam encontrar outras filmagens de púdicas mimosas na Internet, é com muito gosto que coloquei a que fiz no YouTube e vo-la apresento aqui:

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domingo, 1 de março de 2009

Calhambeque ou Dona-Elvira?

Aquando da minha primeira viagem a Lisboa (tinha eu 4 anos) descobri deslumbrado as maravilhas de um mundo frenético e reluzente. Mal me esqueço da cornucópia em néon amarelo, que num dos prédios da avenida Almirante Reis se enchia progressivamente e entornava reluzentes moedas de oiro. Também os automóveis eram um motivo de deleite. Meu pai, tinha um alugado, no qual ia de casa à fábrica de telefones, em Cabo Ruivo, onde, a mando dos CTT de Cabo Verde, fazia um estágio. Um belo dia, chega ele furioso a casa, barafustando que tivera um choque de raspão com uma "dona-elvira" mas que o dono declarara à polícia danos manifestamente não causados por ele, meu pai. "De um dona-elvira queria fazer um Ferrari", praguejava meu progenitor, enquanto eu (já com 5 anos) me interrogava de que Srª Dona Elvira se tratava. Claro que acabei por saber que meu pai se referia a um automóvel antigo e velho. Mais tarde, de regresso a Cabo Verde, vim a ouvir a música de Roberto Carlos intitulada "O Calhambeque" que se tornou num grande sucesso. Eis um clip vídeo tirado do YouTube com a seguinte legenda:
Roberto Carlos actua ao vivo para a televisão Portuguesa RTP na década de 60 no programa "Canção é Espectáculo". Foi a primeira vez que o cantor actuou em Portugal, deixando as fãs também aqui em delírio. Um marco na carreira do cantor.

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Logo associei a designação dona-elvira a calhambeque e passei a gostar de ver essas espécies raras nas enciclopédias e livros que sempre gostava de devorar. Mais uma vez evoco a minha adorada colecção "Ver e Saber" da Editora Verbo, que no seu nº23 nos apresenta o título: "Os primeiros automóveis".

Embora nunca tivesse uma paixão por automóveis, soube sempre apreciar as peças raras que eram os automóveis antigos. Tinha a sorte de poder de vez-em-quando entrar numa garagem que, na Rua Serpa Pinto, ficava, no mesmo passeio, a algumas casas abaixo da casa onde morava. Nessa garagem (que faz a esquina do beco perpendicular à "Casa Felicidade") era guardado uma dona-elvira de cor esverdeada, com a matrícula CVS-11. Mas a viatura antiga mais bonita da capital era o célebre "Bu Mai", uma carripana azul de chapa CVS-7 que deambulava pelas ruas da cidade fazendo ruídos toscos e buzinando uns "aguga!" engraçados, para o deleite da criançada que corria, atrás do carismático veículo.

Porém, os termos carripana e calhambeque, não traduzem bem a realidade dos automóveis antigos de colecção, pois estes são preciosidades bem cuidadas e reluzentes. Antigo não é forçosamente velho. Vejamos o que diz o Ciberdúvidas para o termo dona-elvira que, esse sim, melhor caracteriza a situação:

Dona-elvira não é um sinónimo absoluto de carripana ou calhambeque.Carripana significa: «carruagem velha e de má qualidade»; «automóvel fora de moda». Calhambeque significa «barco pequeno e velho»; «automóvel velho e a funcionar mal»; «traste».Dona-elvira é um automóvel de modelo muito antigo, mas que poderá estar muito cuidado e a funcionar relativamente bem.Observe-se que, embora se encontre a forma «Dona Elvira», por exemplo, em G. Augusto Simões, Dicionário das Expressões Populares (Lisboa, Edições D. Quixote, 1994), a expressão já está perfeitamente integrada no léxico como palavra característica do português europeu. Assim se explica que a forma hifenizada dona-elvira, substantivo feminino, seja a que está registada em recursos lexicográficos mais recentes como o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (2001) e a Mordebe — Base de Dados Morfológica do Português (em linha desde 2005 e constantemente actualizada).

Não é que há dois dias, recebo no meu e-mail, uma magnífica imagem, gentilmente divulgada pelo meu primo Carlos Loff Fonseca, um aficionado e profissional da fotografia. Esta imagem é a de uma dona-elvira passeando nas ruas da cidade da Praia, nos anos áureos em que a mesma não era uma antiguidade!

Com a devida vénia reproduzo aqui a octogenária fotografia em questão:


Para melhor situar a época, da pesquisa de imagens que fiz na Internet, encontrei um modelo de 1929, que muito se assemelha ao da fotografia "praiense", um Ford A Phaeton - 1929 (Azul, Descapotável) e adiciono uma foto do mesmo local, a Praça Alexandre Albuquerque, tal qual ela se encontrava ontem, dia 28-2-2009.