domingo, 31 de maio de 2009

Eutrópio, Ennio e Clint: por sobre píncaros da excelência

Logo que reparei não haver nenhuma câmara de televisão na sala da Assembleia Nacional, aquando do espectáculo inaugural do Orfeão da Praia, pensei logo que isso iria dar que falar. Na realidade, irados comentários se fizeram ouvir a respeito, em diversos media e fora de discussão.

Felizmente minha filha captou, com o telemóvel que lhe emprestara, alguns extractos dos nossos cantos. Sabendo igualmente que o nosso estimado maestro, Eutrópio Lima da Cruz, fora convidado por Abraão Vicente, a falar sobre o Orfeão no programa 180º, resolvi gravar a entrevista e fazer uma montagem com partes da mesma, entremeado com os referidos extractos de nossos números. Eis o resultado em três partes:

1ª parte
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2ª parte
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3ª parte
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Após se terem deleitado com estas montagens vídeo, tenho muito gosto de vos apresentar um clássico das músicas de filme, composto pelo extraordinário Ennio Morricone e interpretado em Berlim por uma orquestra sinfónica (com um coro de vozes à mistura) sob a batuta do próprio maestro. Este clássico não é nada mais nada menos, do que o da banda sonora principal do filme de Sergio Leone: "O Bom, o Mau e o Vilão". Notar que foram usados clips do próprio filme nesse sublime vídeo:

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O paradigmático actor principal deste filme é Clint Eastwood. Este "monstro" do cinema americano está ainda no activo e em plena forma, apesar dos seus 79 anos, que completou hoje, dia mundial sem tabaco. Ainda há bem poucos meses, tive o privilégio de ver o seu mais recente filme (realização e interpretação) Gran Turino, um emocionante filme (ver trama aqui), lançado em Janeiro 2009 e que já obteve
"mais de 30 milhões de dólares na primeira semana de exibição nos Estados Unidos, fazendo de Clint o ator mais velho a conseguir um primeiro lugar em bilheterias" [in wikipédia]
Bem, despeço-me desejando um bom dia mundial da criança (dia 1 de Junho, feriado em três países entre os quais Cabo Verde)
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quarta-feira, 27 de maio de 2009

O novo Orfeão da Praia


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Este assunto será retomado no Domingo 31 de Maio, mas para não perder actualidade eis alguns pedaços:

Vejam o que escrevera eu há uns meses atrás AQUI

Agora leiam o artigo anunciando o ressurgimento do Orfeão Sénior da Praia, publicado no A Semana online:

Nos finais de 1974 surgia na cidade da Praia um orfeão, composto por jovens cuja média de idade rondava os 17 anos. Hoje querem regressar aos palcos e à vocação desses tempos, 32 anos passados… É já no dia 25 de Maio que o Orfeão da Praia vai voltar a reunir-se.

“A ideia foi de Filomena Frederico Delgado, elemento original do grupo, e em Janeiro deste ano começaram os ensaios”, conta Eutrópio lima da Cruz, que em 1974 dirigia o grupo. Agora afirma já estarem prontos para se apresentarem ao público, num dia especial – o Dia de África (25 de Maio). Árias de ópera, peças polifónicas clássicas e géneros de música cabo-verdiana estilizados a quatro vozes compõem o repertório. “Será, no fundo, uma antologia das 11 apresentações que fizemos em 2005/07”.

Em Janeiro, conta lima da Cruz, reorganizaram-se e arranjaram o material humano. O orfeão hoje é composto por 30 elementos dos idos anos 70 e por outras trinta pessoas, que são as “novas aquisições do grupo”. “São pessoas inseridas nas mais variadas esferas da sociedade cabo-verdiana: desde empresários, funcionários públicos, professores universitários e liceais até pilotos”, elenca. Ninguém é profissional de música e, tal como afiança lima da Cruz, tudo não passa de “uma carolice nossa”.

O concerto terá um sistema de convites e vai realizar-se no auditório da Assembleia Nacional. “O grupo existe para a nossa satisfação espiritual, porque em Cabo Verde não há mercado para este género de iniciativa”, diz Eutrópio lima da Cruz. E, por isso, prognostica o chefe de orquestra, depois deste primeiro concerto, ficará à mercê das solicitações. Mas independentemente disso, realça, tal como em 1975, “os nossos encontros são sempre de festa, alegria e convívio. As pessoas dão o melhor de si”.

Catarina Abreu


Agora vejam o apontamento desse mesmo jornal, dois dias após o show, com o título Orfeão ovacionado na Praia:

O Orfeão da Praia voltou, e a julgar pelas palmas entusiasmadas do público que lotou a sala da Assembleia Nacional, temos outra música na capital do país. Uma nova era se abre na música coral do país. Os 55 integrantes estiveram ali para confirmar a grandiosidade da oferta que, no futuro, depois de uns acertos aqui e acolá, vai enriquecer e de que maneira o panorama musical cabo-verdiano. Bem hajam, disse o público em delírio.

Este artigo veio acompanhado de fotografias de que me servi para compor o seguinte diaporama:
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domingo, 24 de maio de 2009

O Kapa em mim: da total confiança ao cepticismo afirmado

Se para um indivíduo amante da Ciência, o X é uma incógnita, o K é certamente uma certeza: o símbolo do Potássio, a constante de Boltzmann, a unidade da temperatura absoluta (o Kelvin), etc. são disso exemplos paradigmáticos. Mas, não obstante os significados do que acabo de dizer serem para mim uma evidência, não é de matérias científicas que vos vou falar. Falar-vos-ei de algumas recordações e factos associados à letra K que, de uma maneira ou de outra, causaram-me uns, agradáveis emoções, outros, emoções de cepticismo e repúdio:
  1. Maria Helena Pereira Fogaça (1928-1984), era o nome de uma das melhores professoras de Liceu que jamais tive. A senhora era um espectáculo em matéria de matemática, fazendo-me apanhar o gosto por esta disciplina. Ela não falava nas aulas senão de Matemática e sabia manter o respeito. Eis uma história que não contei no artigo que publicara em tempos, sobre a vivência no Liceu Adriano Moreira (ver aqui): Fogaça explicava as séries e lá ia ela desfilando uma sucessão de k1, k2, k3, .... e ia dizendo "capa um", "capa dois", "capa três"...; nisto, ouve-se uma voz do fundo da sala a dizer "capa tudo alguén...". Risos! ... Fogaça, sem se virar do quadro, profere: "Sr. Vaz, faça o favor de sair da sala ... capa quatro, capa cinco....", continuando a série "castradora" como se de nada se tratasse. Os risinhos tornaram-se abafados e foram-se amortecendo à medida que o "Sr Vaz", cabisbaixo, encaminhava-se para a porta.
  2. Quando cheguei a Tucson - Arizona em 1986 para fazer o Doutoramento, fui morar para um castiço condomínio perto da universidade. Ainda sem carro, o posto de abastecimento alimentar mais próximo era uma das tais "convenience stores" denominada Circle K. Tornei-me assíduo frequentador desse "Círculo Kapa" como jocosamente designava o local, com a minha mania de então, em aportuguesar propositadamente todos os nomes de lojas das redondezas. Mais tarde vim a descobrir outros locais mais em conta, mas guardo até hoje em memória o grande K do símbolo (ver a figura do topo).
  3. Tinha eu 14 anos e meio quando fui pela segunda vez a Portugal com meus pais, acompanhando-os na sua 2ª licença graciosa. Minha prima Lena também se encontrava com os pais em Portugal. Ela (então com 16 anos) tinha o cabelo alourado e, por ser branca de pele, ninguém suspeitaria (em Lisboa naqueles preconceituosos tempos) que éramos primos em primeiro grau. Descíamos de mãos dadas o Parque Eduardo VII e Lena, que acreditava em "quiromancia", fez-me ler a sina por uma cigana. Esta pega-me na mão e após passar uma rápida olhadela pela Helena vaticina: "... vejo um futuro risonho à sua frente; há uma moça loira muito rica, que lhe quer bem e que está apaixonada por si... Ela é tímida mas acabarão por se casar e ter dois filhos...". Foi assim que o K, que nas línguas semitas representava a "mão", fez-me cimentar o cepticismo que já nutria pelas crendices dos advinhos.
  4. Recentemente, tive de fazer uma incursão sobre os perigos do uso do ALUPEC num sistema que se quer (será?) bilingue. Já não é de agora que falo disso (ver aqui). Porém, aquando das Jornadas Parlamentares do MpD, apresentei uma comunicação, onde a dado passo escrevi: "A campanha do alfabeto fonológico e kapiano só faz criar um asco e uma relutância à língua portuguesa que sob essa luz nos parece ser uma língua marciana, complicada e … não nossa. A expressão “nôs língua é cauberdianu” diz, por inferência, que o português não é nosso! ". Isto valeu-me de alguns que são amantes do monolinguismo, ou seja do Caboverdiano como língua oficial única de Cabo Verde, alguns meio-insultos e desconsiderações. Para mim, assim como para muitos outros (ver artigo de Napoleão Andrade aqui), não há razão nenhuma de substituir o C pelo K, pois sendo o Caboverdiano uma língua latina, deve manter a convenção sobre o K (quando as palavras provenientes do grego foram assimiladas pelo latim, o K foi convertido em C) das demais línguas românicas!
  5. Mas a minha pior experiência com o K é a das injecções dessa vitamina, que me via obrigado a tomar em criança, em virtude do constante sangrar pelo nariz (EPISTAXE) de que padecia. Por ser oleosa esta vitamina K, era uma dor terrível que sentia durante a injecção que o Sr. Agnelo, o vizinho enfermeiro, me aplicava com um amável sorriso, óculos de plástico negro e palavreado oco de um "não vai doer..não dói...já passou!". A vitamina K tem efeito coagulante e pode ser usado no tratamento da hemofilia
Pois bem! Acontece que hoje comemoram-se os 190 anos do nascimento da Raínha Victória de Inglaterra. Esta senhora ficou conhecida por ser a monarca com o reinado mais longo do Reino Unido, mas também por ser a primeira transportadora conhecida de hemofilia na realeza.

domingo, 17 de maio de 2009

Minha adolescência evocada em altitude, por Cristo e Gabriel

Há já alguns dias, ao procurar as efemérides do dia 17 de Maio, encontrei o da inauguração do santuário do Cristo-Rei em Almada. Como a data era a de 1959, depreendi logo que ia haver muito alarido à volta disto, pois seriam as bodas de oiro desse emblemático monumento. Dito e feito, muitos estão a ser os festejos e evocações da data. Por isso, e como o propósito deste Blog não é jornalístico, apenas apresentarei duas fotos minhas, tiradas junto ao citado monumento em Agosto de 1973, aquando da já aqui mencionada viagem de estudos do Círculo de Estudos Ultramarinos. Muito aprendi, porém, nestes dias, vendo as reportagens sobre o o evento, consultando sites na Internet, vendo diaporamas e lendo artigos relacionados nas enciclopédias. Como este Blog é também de "postais antigos," aqui vai um postal animado da inauguração:

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Entretanto, a data de 17 de Maio tem para mim um significado nostálgico mais profundo. Desde 1969, que os pic-nics dos CTT (onde meus pais fizeram suas vidas profissionais), passaram a ser realizados nesse dia, o Dia Mundial das Telecomunicações, sendo para mim, nessa altura, uma oportunidade para ir a lugares aprazíveis do interior de Santiago, onde convivia com os filhos dos demais funcionários dos Correios, Telégrafos e Telefones (antes, os pic-nics eram em Março, por ocasião das festas do Arcanjo São Gabriel, padroeiro católico, das telecomunicações). Esta data é a da fundação da UIT (União Internacional das Telecomunicações) que via sua nascença em Paris, a 17 de Maio de 1865. É hoje, a mais antiga organização internacional do Mundo (ver aqui). Em 1965, os CTT da província de Cabo Verde, emitiram um selo comemorativo do centenário da organização. Tenho o envelope do primeiro dia, que partilho aqui convosco:


Em 1968, a União Internacional das Telecomunicações, no 23.º Conselho Administrativo, decidiu escolher o dia 17 de Maio como Dia Mundial das Telecomunicações e exigiu dos seus membros que nesse dia, desenvolvessem actividades comemorativas, divulgassem o papel importante que as telecomunicações desempenham, promovessem as tecnologias de telecomunicações e despertassem o interesse dos jovens em conhecer as telecomunicações.

Em 1978, os CTT de Cabo Verde emitiam um selo comemorativo dos 10 anos da instituição desse Dia Mundial. Eis aqui o envelope do primeiro dia de circulação (aproveito para vos mostrar igualmente o emitido no ano anterior):
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Devo dizer que, desde 2005, este dia passou a designar-se Dia Mundial da Sociedade da Informação. As Nações Unidas assim o determinaram (ver aqui a mensagem de Kofi Annan) na sequência da chamada Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação.

As telecomunicações em Cabo Verde deram o seu primeiro passo significativo em 1974 com o início do funcionamento das estações do Monte Tchota (em Santiago, entre Rui Vaz e o Pico d'António o ponto mais alto da ilha), Monte Verde (São Vicente) e Morro do Curral (no Sal), que permitiu as ligações telefónicas automáticas entre as ilhas:
"Depois, em 1974, concluía-se o projecto de automatização das comunicações inter- ilhas, através da instalação de sistemas rádio por feixes hertzianos, interligando os centros de Monte Tchota (Santiago), Monte Verde (S.Vicente) e Morro Curral (Sal). A partir destes três centros principais de transmissão são estabelecidas ligações com os centros em S. Antão, S. Nicolau, Boa Vista, Maio, Fogo e Brava." [CVTelecom]
Meu pai, foi um dos "protagonistas desse filme" e eu fui um dos ... "figurantes". Na realidade, vivi de perto a construção e a instalação da estação do Monte Tchota. Vejam a foto a seguir e ... boa semana!

Foto tirada em 30 de Março de 1972, vendo-se ao fundo o pico denominado d'António em homenagem a António da Noli, um dos descobridores da ilha. Não sei porque carga de água é que se vê traduzido, do Crioulo "Pico 'Ntóni", para "Pico da Antónia"

domingo, 10 de maio de 2009

"Merinha" - uma vespa verde, neurocirurgiã e psicopata

Nestes últimos dias, tenho ido amiúdas vezes aos ensaios do Orfeão Sénior da Praia (ver antecedentes aqui). De vez em quando ali se ouve uma voz aguda e esganiçada, que me faz lembrar uma frase bem santiaguense: "Toma sima merinha na caxa fós !" .

Esta frase deriva da brincadeira infantil que consiste em: 1-prender o pobre insecto verde esmeralda numa caixa de fósforos (trata-se de uma vespa conhecida no Brasil por vespa-jóia ou em inglês por emerald jewell wasp), 2-deixar a caixa ligeiramente entreaberta, 3- esperar que o bicho assome a cabeça e 4-entalar esta de imediato fazendo com que o insecto emita um som metálico (de dor) fanhoso e sincopado, amplificado pela caixa (de ressonância) de fósforos.

Ora, como já o dissera, fui um coleccionador e observador de insectos. A foto que vos apresento é o de uma merinha (ampulex compressa) que passou mais de 40 anos espetada por um alfinete na cortiça que forrava o fundo da caixa onde coleccionava insectos (o dedo na foto é meu!). Lembro-me que nessa época, passava horas a observar esses verdes insectos que poisavam nas paredes de minha casa, sobretudo junto aos cantos onde havia baratas.

Na realidade estas vespas são terríveis, e atacam as baratas. Injectam veneno no cérebro destes insectos para que fiquem zonzos e conduzem-nos (quais cães amestrados) para seus ninhos. Colocam um ovo no interior da barata e mais tarde, a larva nascida vai comendo as entranhas da infeliz . Várias são as vespas que após se desenvolverem dentro de um hospedeiro o devoram. Essas relações são chamadas de parasitoidismo. [ver aqui] . Finda a fase larvar, a jovem adulta, sai triunfante da carcaça da barata. Vejam:

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Este comportamento estranho é descrito em vários artigos da blogosfera, como neste elucidativo apanhado, intitulado: O parasita solitário que conduz a sua presa, do blog Cais de Gaia:
"A pequena vespa iridiscente é um parasita durante a fase larvar que se especializou nesta espécie de baratas, e não ataca nenhumas outras. A Ampulex procura uma vítima e dá-lhe uma picada com o seu ferrão, injectando um cocktail de neurotoxinas que não mata a barata, apenas a paralisa ligeiramente."

Para melhor conhecermos os estudos sobre este comportamento, deixo-vos com um vídeo elucidativo:


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