domingo, 26 de outubro de 2008

Quão aprasível me foi, encontrar a prima da Aplysia dactylomela

A Aplysia dactylomela é um estranho animal marinho que se pode encontrar em quase todo o Atlântico e no Mediterrâneo. Mas o que é digno de realce é que Rang, Sander (1793-1844), o cientista que descreveu esta espécie há precisamente 180 anos, fe-lo sobre um exemplar colhido aqui em Santiago de Cabo Verde em 1828. Assim o nome completo do bicho é Aplysia dactylomela Rang, 1828.

Durante a minha infância, deleitava-me na Praínha (a pequena praia de mar da cidade, frequentada nessa altura pela classe média) a procurar o animal nas "bacias" de água entre as pedras e a provocá-lo com algum objecto pontiagudo para ve-lo soltar aquela cortina de "fumo" roxa e ofuscante. "Meu pai disse que ele se chama rato do mar" elucidara-me um colega de escola que ao meu lado participara da aventura. "Cal rato!.. hi!hi!hi!" troçava um garoto da Achada Santo António ... "quela tchuma: catota'l mar". Excusado será dizer que doravante a curiosidade se tornara maior e gargalhadas comprometidas passaram a acompanhar-nos nas aventuras subsequentes de busca da "ca... " ou melhor, do "rato do mar".

A minha curiosidade científica me fez mais tarde encontrar algumas referencias do animal (não tínhamos Internet) como sendo um molusco gastrópode, hermafrodita e herbívoro, mais conhecido em Portugal por "vinagreira" ou "lebre do mar". Cheguei a ver este molusco ao fazer (já adolescente) mergulhos com óculos e barbatanas. Podem apreciar aqui, um clip do YouTube onde se pode perceber porque lhe chamam de rato ou de lebre do mar, vê-lo a comer "alfaces do mar" e a expelir a tinta púrpura.

Durante muitos anos me intrigou o nome vernáculo que davam na ilha de Santiago, ao Aplysia. Não via parecença nenhuma com o órgão genital feminino. Até que há poucos dias estava com a família na Praia-Baixo e qual não foi meu espanto ao ver um animal da cor da pele de uma mulata, nadar ao meu lado com a beleza que poderão conferir no clip de vídeo seguinte:

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Fascinado, cheguei a casa e fui pesquisar na Internet, tendo encontrado que se tratava da prima do nosso "rato do mar": a "vinagreira negra" ou Aplysia fasciata, Poiret 1789, também existente em Cabo Verde e que certamente foi ela que inspirou o tal nome vernáculo "anatómico":



domingo, 19 de outubro de 2008

Raúl Solnado e as primeiras gargalhadas de que me recordo

Hoje, 19 de Outubro 2008, este grande humorista português que responde pelo nome de Raul Augusto Almeida Solnado fez 79 anos! Ainda rijo e valente, parece que irá para o ano (o ano de seu 80º aniversário) brilhar de novo na RTP (clique aqui). Tornou-se num grande actor, mas eu ainda o prefiro como aquele humorista dos anos 60 do século XX.


Este Raul Solnado traz-me gratas recordações das noites de gargalhadas que meus jovens pais davam em 1962, no pequeno apartamento onde vivíamos em Lisboa (entre 1962 e 1963). Esta estadia em Lisboa, foi para mim marcante, visto estar associada à primeira viagem que fiz, tinha eu 5 anos apenas. A família seguira (mais a vovó Candinha, sogra de meu pai) para Lisboa no navio motor Alfredo da Silva e regressara um ano depois no Manuel Alfredo (o navio gémeo do primeiro). Saudosos navios! Mas estas aventuras náuticas ficarão para uma próxima crónica.

Lembro-me de o ouvir na rádio, nos seus shows humorísticos. Meu pai comprara um dos discos de vinil (45 rotações) de Solnado, que faziam furor na época. Tratava-se do disco que batera todos os recordes de vendas de discos em 1962 e que reunia "A Guerra de 1908" e "A História da Minha Vida".

Apresento-vos agora "A guerra de 1908" sob forma de "mídia".
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Agora um pouco de sua discografia (singles e EPS):
Solnado actuou no Brasil e eis uma pérola rara (um clip de vídeo de um "sketch" com o actor italo-brasileiro Zeloni:

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Para terminar, eis uma colagem de vídeos e imagens de Raúl Solnado, tendo como som de fundo, a "canção" deste artista: Dá O Cavaquinho, Os Ferrinhos e a Pandeireta (Single, Orfeu, 1978) 645

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domingo, 5 de outubro de 2008

Os meus queridos alunos - II (e o dia internacional do professor)



Por volta das 10h da manhã deste Domingo, fui lembrado através de um telefonema da Rádio Nacional de Cabo Verde, que hoje era o Dia Internacional do Professor (instituído pela UNESCO*). A simpática jornalista, após educadamente se desculpar de me ter ligado para casa num Domingo, indagou se estaria eu disposto a dar uma entrevista para o jornal das 13, a propósito do citado dia internacional do professor. Após assegurar-lhe que de maneira nenhuma me sentira incomodado e que de muito bom grado iria conceder a entrevista, começou a gravação do diálogo entre nós entabulado.

Várias foram as questões e a última dizia respeito à mensagem que deveria eu deixar aos colegas professores. Não me lembro do palavreado exacto que usei, mas grosso-modo quis transmitir que os mais jovens devem esmerar-se para serem uma referência positiva, para que possam desfrutar mais tarde do regozijo de duas fantásticas situações:
  1. Ver passar ao lado, ou ver na comunicação social, cidadãos brilhantes e notórios e poder dizer: "eis um de meus antigos alunos que de algum modo agora traduz um pouco de mim mesmo"
  2. Deparar com indivíduos que rasgam um sorriso ao nos ver e proferem frases do tipo "... Não se lembra de mim? professor...sou o [fulano]..."
E é neste pé, que partilho neste artigo mais uma foto (vejam também as que apresentara no "Os meus queridos alunos I") de alunos meus, que me foi enviada com uma comovente carta que orgulhosamente aqui exibo:

* mensagem da UNESCO traduzida para português: clique aqui