domingo, 28 de junho de 2009

Djédjé di Nhô Antóni, viu São Pedro!

Após as estrondosas notícias dos últimos dois dias ... :
  • 25 de Junho - " O cantor e compositor Michael Jackson, 50, morreu às 18h26 (horário de Brasília) desta quinta-feira (25), após sofrer uma parada cardíaca em sua casa, em Los Angeles. Segundo o jornal "Los Angeles Times", os médicos do hospital da Universidade da Califórnia confirmaram a morte do cantor, que teria chegado ao local em coma profundo" - [in UOL]

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  • 26 de Junho - "Cidade da Praia, 26 jun (Lusa) - A elevação da Cidade Velha a Patrimônio Mundial da Humanidade, anunciada nesta sexta-feira pela Unesco, marca um projeto iniciado há uma década e vai permitir o desenvolvimento do primeiro núcleo populacional surgido na ilha de Santiago, em Cabo Verde. Também conhecida por Ribeira Grande de Santiago, a região foi descoberta pelos portugueses em 1460 e, dois anos mais tarde, foi fundada no local a primeira cidade do mundo construída por europeus nos trópicos." [in LUSA]
Vejam o que eu dizia a este respeito em 31 de Janeiro de 2007 :

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... chegamos a este Domingo, véspera de São Pedro, com vontade de regressar ao sopé do Vulcão do Fogo e desfrutar a calma ali reinante:


Mas, ... porque resolvera eu ir ao Fogo há dois meses atrás e levar minha mulher comigo? Precisamente para apreciar in loco o que eram as "festas da bandeira" e ter uma visão daquilo que minha avó Quinha, tios e primos contam a propósito da "Bandeira di nhô San Pedro" que tem "estado na família" desde que meu bisavô Djédjé di Nhô Antóni a tomou!

Eis a história:

José António da Silva pertencia a uma família de posses, filho do major António José da Silva, influente personagem do século XIX na ilha do Fogo. Conhecido por Djédjé di Nhô Antóni, José da Silva possuía um navio, de que era capitão, que fazia viagens entre Cabo Verde e os Estados Unidos, no início do século XX. Embora tivesse ganho muito dinheiro com este circuito, Djédjé transportava de graça para os USA, muita gente pobre e era um homem conhecido pela sua bondade e devoção religiosa.

Numa de suas viagens de regresso da Nova Inglaterra, Djédjé apanhou um violento temporal e o navio teve um rombo, começando a entrar água. O naufrágio era iminente. Meu bisavô, poz-se de joelhos e começou a rezar fervorosamente. Nisto, fez-se um clarão (provavelmente de um incêndio na rectaguarda) e Djédjé exclama "Nhu San Pedro! nhu salvan!". E não é que uma embarcação que passava ao largo do escuna, vê as chamas e vem em socorro de Djédjé e da tripulação?

Desde então, José da Silva prometeu usar o resto de sua fortuna, promovendo as festas da "Bandeira de nhu San Pedro", até que a morte o levasse. Só que as estrondosas festas foram-se desvanecendo (de tal sorte que já nem delas se falam nos artigos nacionais: ver aqui) à medida que os anos se passavam e que a fortuna de Djédjé definhava. O homem viveu 96 anos!

Hoje, com muito pouca festa, ainda se diz a missa e se entrega a bandeira ao padre. A bandeira continua na nossa família e é sustentada pelo neto "Nénezinho", que vive nos Estados Unidos.

O ponto alto das festas de São Pedro no Fogo recai sobre o então célebre Canizade (uma espécie de dança, com máscaras e saiotes de palha). Este tem lugar na véspera do dia da festa. Hoje, dia 28 de Junho é vespera de Nhô San Pedro! Haverá Canizade no Fogo?

NB: segundo Henrique de Pina Cardoso:
"Canizade, úndi qês canizade tã badjabo, tê de pramanha… Rôpa de canizade êh um s’péce de máscra, qi tâ parce qês índio maricano, qú qês saia de padja, qês latas pindrado, suma qês tchocadjo qi tâ podo na limária pâ bú sabê úndi ês s’ta tâ anda."

domingo, 21 de junho de 2009

Alexandre o Grande, biscoitos gregos e Bach

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No ano de 365 ac nascia a 21 de Junho, Alexandre III (o Grande) da Macedónia. Embora esta data de 21 não faça a unanimidade, o certo é que ela é singular, pois representa o momento em que no hemisfério onde nasceu Alexandre, o Sol está mais tempo no firmamento, ou seja é o Solstício "de Verão".

Com o calor que já se faz sentir neste 1º dia de Verão, bem me apetecia estar de férias à beira-mar, de preferência numa ilha grega comendo biscoitos de amêndoa. Mas ... a ilha grega não está à mão de semear.


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Porém, estes biscoitos estão! Acabo de comer alguns dos que Garda, (minha mulher) fez ontem. Esta receita muito antiga, viajou da Grécia até ao Porto Grande no Mindelo e acabou por ser trazida para a cozinha de minha casa, onde foi retocada por Garda.

NB: existe uma outra versão desta receita de biscoitos gregos, chamados também de Kurabie, mas que têm outro gosto (devido ao cognac, às gemas e à baunilha). Se há momentos, onde o sublime do gosto, advém da mistura multi-sabores, também os há, onde a intensidade gustativa provém da simplicidade da mistura dos ingredientes vedeta (neste caso as amêndoas torradas, a manteiga e o açúcar)

Quem sabe após suas campanhas, o grande Alexandre, não se consentia a pequenos prazeres gustativos, saboreando biscoitos de amêndoa como estes:


Biscoitos gregos com o toque especial de Garda

  • 100g de amêndoas (com peles) torradas e moídas
  • 125 g de açúcar pilé
  • 250 g de manteiga
  • 500 g de farinha de trigo
Misture (incorpore) o açúcar e a manteiga à amêndoa torrada e moída (grão fino) e depois de bem ligados, junte aos poucos a farinha de trigo.

Em seguida deite a massa sobre uma superfície lisa e com um rolo, abra a massa até obter uns 4 mm de espessura. Recorte biscoitos em forma de meia-lua e coloque-os num tabuleiro forrado de papel vegetal untado de manteiga.

Leve ao forno por alguns minutos (até ficarem com um tom amarelo-torrado). Retire os biscoitos do tabuleiro e polvilhe abundantemente com açúcar pilé. Disponhe-os a seu gosto, num prato de servir.
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Bem, vou agora comer mais alguns biscoitos, ao som de Johann Sebastian Bach, neste dia sublime em que meu filho Mauro vai receber sua fita de finalista do liceu e em que se comemora o aniversário do nascimento de um dos filhos (este) do mais brilhante compositor da vasta família Bach, a maioria músicos de renome.

Mas, não fiquem com ciúmes, aqui vos ofereço a Ária que vou ouvir, (a primeira de J.S.Bach que ouvi de um disco em vinil, a mim oferecido aos 9 anos) fantàsticamente interpretada por Sarah Chang a não menos fantástica e linda violinista americano-coreana, actualmente reconhecida através do Mundo, como:
"...one of classical music’s most captivating and gifted performers. One of the most remarkable violinists of any generation..."

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domingo, 14 de junho de 2009

Mauro, Mancini e Matrimónios

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Na senda desta minha súbita febre melómana e inclinação pelas notáveis músicas de filmes, não resisto neste mês das crianças, a apresentar a castiça fotografia seguinte, de meu filho Mauro, em sua tenra idade:

Pobre "pantera cor-de-rosa"! coitadinha, de cabeça para baixo, sabe-se lá para onde será arrastada.

Este meu filho, adorava o rosado boneco e como nasceu com queda para a música, veio mais tarde a interpretar com mestria, o clássico Pink Panther Theme Song de Henry Mancini, mais um notável compositor e maestro de músicas de filme.

Podemos apreciar a precoce sensibilidade musical, de Mauro Jorge Barros Brito, na parte final deste clip:
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Cedo colocamos nossos dois filhos mais novos, numa escola de música e mais tarde ele seguiu a turma de piano clássico. Comprámos-lhe um teclado electrónico semi-profissional, e Mauro divertia-se a tocar as mais diversas árias, tendo Mélanie a seu lado como "cantora lírica".

Como dizia, Mauro tocava muito bem o Pink Panther de Mancini e sempre gostou dos desenhos animados da Pantera cor-de-rosa. Donde veio isso? Vou agora especular, baseado nas coincidências:
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Henry Mancini (1924-1994) nasceu no mesmo ano em que minha mãe nasceu. Nasceu a 16 de Abril (dia em que minha mulher e eu, comemoramos os aniversários de nosso casamento) e morreu a 14 de Junho (dia em que meus pais comemoram seus aniversários de casamento).


Adivinharam! hoje (15 anos após a morte de Mancini) meus pais fazem 55 anos de casados. São as Bodas de Esmeralda. Eles casaram-se por procuração, pois nessa altura (1954) meu pai estava colocado na ilha do Sal, como rádio telegrafista.


Finalizo com o tema Pink Panther de Mancini, (que se encontra sentado ao piano) em homenagem a todos os que aqui mencionei:

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domingo, 7 de junho de 2009

Santos diabinhos!

Há trinta anos comemorava-se o Ano Internacional da Criança. Nesse ano, os Correios de Cabo Verde lançaram no dia 1 de Junho, selos comemorativos e castiços envelopes do 1º dia. Eis a imagem de um dos envelopes da minha colecção filatélica:


















Reparem que a célebre frase atribuída a Cabral, "As crianças são as flores da nossa revolução", foi "doirada" para "As crianças são as flores da nossa luta" ! (no coments!)

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Há vinte anos (1989), as crianças viam nascer uma famosa telenovela Mexicana: Carrussel. Na sua versão brasileira de 375 episódios, elas eram apelidadas pelo zelador do colégio, o Firmio, de "Santos diabinhos". Dava gosto assistir aos episódios dessa produção televisiva. Fazendo um clique na foto ao lado, serão conduzidos para um YouTube resumo do 1º episódio. Se está curioso por saber o que é feito desses "santos diabinhos" quinze anos depois, clique aqui.

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Há poucos dias fui desencantar nas minhas "pesquisas arqueológicas" aos haveres de meus antepassados, três fotos de minha infância, onde me encontrava ladeado de outras crianças em poses inocentes, após (lembro-me perfeitamente) diabruras e traquinices no quintal da casa de minha avó, que agora é meu lar. Reparem que bem podiam estas fotos serem intituladas de "santos diabinhos!":
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Já repararam nas características orientais destes meus amiguinhos? Pois é, estávamos em 1963 e já tínhamos "chineses" na nossa cidade! Quem seriam eles?

Vou suspender aqui o artigo, para vos dar a oportunidade de o adivinharem. Dica: são parentes (sobrinhos) de uma médica, então vizinha nossa, que viria a ser objecto de trocadilhos, após a exibição aqui na Praia, do filme Born Free. O título em português e os nomes do casal governamental da época, dirão tudo.

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E disseram mesmo! Recebi há minutos por e-mail, a resposta que esperava, de uma parente minha, prima do ilustre tio das crianças das fotos, minhas vizinhas (moravam no palácio do Governador).

Esse tio, era o então (1963-1969) Governador da Província de Cabo Verde, Leão Maria Tavares Rosado do Sacramento Monteiro (origem do Fogo). A mulher desse Leão (que está na minha árvore genealógica) era uma médica macaense que respondia pelo nome de Elsa (Elsa Maria José de Sena Fernandes). As crianças eram filhas da irmã de Elsa, de nome Arlete. O filme em questão tinha por título: "Uma Leoa chamada Elsa", donde as piadas que à boca pequena (era no tempo da PIDE) se faziam.

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Este filme foi muito comovedor. Baseado no livro Born Free da escritora checa Joy Adamson, (nascida Friedericke Victoria Gessner) relata a história verídica sobre uma leoa e a mulher (Joy) que a criou e depois devolveu à liberdade. O filme recebeu vários galardões internacionais, entre os quais os óscares da melhor banda sonora (compositor Jonh Barry) e da melhor canção de 1967. Esta canção é certamente de vós conhecida e terei muito gosto de terminar este artigo com o clip da mesma, primorosamente interpretada por Matt Monro, nome artístico de Terence Edward Parsons, cançonetista londrino dos anos 60 que se tornou famoso pela voz que dava às canções de filmes:

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