domingo, 7 de novembro de 2010

Agressividade - o traço animalesco de Guerra e Paz

Aos Domingos de manhã, dedico-me um pouco mais ao jardim e aos nossos animais de estimação. Após cuidar dos caniches, sentei-me a descansar e a olhar para os pássaros. De repente o habitual "coquetel de chilreios" transformou-se numa estridente algazarra sonora. Tirei imediatamente do bolso o telemóvel-câmara e filmei o seguinte:


Porque estariam estes animais, que se davam tão bem, a brigar? São fêmeas da mesma espécie, a Melopsittacus undulatus ou periquito australiano. Ciúmes?

Nasceu a 7 de Novembro de 1903
Bem, lá me vi eu de novo a cogitar sobre o comportamento de animais. Esta "mania", vim aprender muito mais tarde, que se enquadrava numa ciência chamada Etologia, a qual teve por expoente máximo, Konrad Lorenz. Eis o que dele se diz num site educativo:
"Tinha um mini-zoológico em casa, com várias espécies de peixe, aves, macacos, cães, gatos e coelhos, muitos dos quais ele capturava em suas excursões pelo campo. Ainda muito jovem, ocupava-se de nutrir e tratar os animais doentes no zoológico de Schonbrunner, nas proximidades de sua casa. Também anotava metódica e detalhadamente em um diário o comportamento de suas aves. A observação dos hábitos dos animais e a comparação do instinto de agressão animal com o comportamento humano foi uma grande preocupação dos cientistas e um momentoso tema dos pensadores no período entre as duas grandes guerras, em busca de explicações para a agressividade humana." 
Efectivamente, Konrad fez bastantes estudos sobre a agressividade animal, com vista à comparação com o comportamento humano. Vejamos mais um extracto do citado site:
"Em 1973 Lorenz recebeu o prémio Nobel de Medicina e Fisiologia, dividido com outros dois estudiosos do comportamento animal, Karl von Frisch e Nikolaas Tinbergen. Seu trabalho sobre as raízes da agressividade alcançou grande repercussão devido à possibilidade de aplicação ao conhecimento da violência urbana e, em maior escala, à prevenção das guerra. Jean Piaget tomou-o, juntamente com os resultados de sua própria pesquisa, como base para sua inovadora psicobiologia. Recebeu também diplomas honorários das Universidades de Yale, Loyola. Leeds, Basel, e Oxford, além de vários outros prémios e honrarias.
O ponto crucial da visão de Lorenz a respeito da natureza humana é que, assim como muitos outros animais, o homem tem o impulso inato do comportamento agressivo em relação a sua própria espécie."
Morreu a 7 de Novembro de 1910
Guerra e Paz, as eternas faces da mesma moeda. Muito gira à volta desta "moeda", muito se escreveu e se pode escrever sobre este assunto. Leão Tolstoi gastou rios de tinta para escrever uma obra com este nome:

"É uma das obras mais volumosas da história da literatura universal. O livro narra a história da Rússia à época de Napoleão Bonaparte (nomeadamente as guerras napoleónicas na Rússia). A riqueza e realismo de seus detalhes assim como suas numerosas descrições psicológicas fazem com que seja considerado um dos maiores livros da História da Literatura."
 [Guerra e Paz in Wikipédia]

Como liguei sempre mais às ciências ditas exactas que à história, não cheguei a ler Guerra e Paz. Nos primeiros anos da Independência, o "livro grosso" que mais estava na moda era "o Capital" de Karl Marx. Muitos dos jovens "revolucionários" de então, andavam em lugares públicos com este calhamaço debaixo dos braços, para ganhar status de intelectuais. Conhecendo a "escrita pesada" desta obra e conhecendo o nível de discernimento de alguns destes ditos-cujos, o conteúdo do livro só poderia transitar por osmose para os seus detentores, na razão inversa da catinga do sovaco.
Nasceu a 7 de Novembro de 1879
"Peta", um destes jovens, era no entanto pessoa inteligente e andava muito envolvido em movimentações políticas. Muitas vezes um pouco agressivo, viu-se um belo dia perseguido por agentes do poder e, creio eu, uma bala foi disparada. Um médico psiquiatra e político activo, amigo do nosso herói, foi o primeiro a vir em socorro do mesmo. Houve muito alarido nessa altura, vindo à tona a questão dos Trotskistas do PAIGC. Foram momentos tensos, tendo havido sessões de "crítica e autocrítica", onde muitos "Trotskistas" mostraram-se arrependidos (alguns de lágrimas nos olhos) e outros tiveram de sair do Governo e do país ( vejam a entrevista de Jorge Carlos Fonseca aqui). Muita agressividade pairava no ar. Bem gostaria eu de ver Konrad Lorenz a fazer a crítica destes seguidores de Trotsky e de seus perseguidores!


A propósito de "Peta", conta-se que nos tempos do liceu (antes do 25 de Abril) era ele muito romântico e que uma vez, platonicamente, enamorou-se de uma linda jovem cuja alcunha era "Pi". Claro que nós os jovens alunos liceais, logo aproveitamos para fazer trocadilhos e aconselhamos ao mesmo que passasse a frequentar os laboratórios de química do liceu, pois ali encontraria muitas pipetas (PI-PETA) entre os vidros laboratoriais!


Nasceu a 7 de Novembro de 1867

Isto não só me traz recordações das experiências de química que fazíamos sobre as tampos azeviche das ardósias das bancadas desses laboratórios, como também dos heróis e heroínas da Física e da Química. A nossa professora de Físico-Química fazia questão de valorizar o papel da francesa Marie Curie nestas áreas, realçando o facto dela ser mulher. Mais tarde vim a saber, que na realidade a cientista era polaca e que nascera Maria Sklodowska. Foi a primeira mulher que recebeu o prémio Nobel duas vezes. Sua filha também veio a ser galardoada com este prestigioso prémio. Deixo-vos com um vídeo sobre os prémios Nobel dos Curie:
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domingo, 24 de outubro de 2010

Recebi pragas dum fantasma das chuvas!

Pois é! Até apetece amaldiçoar a chuva, que por ter estado três dias sem parar (a foto ao lado é elucidativa - clique nela para saber quem é seu autor), fez vários estragos no meu jardim interior. A título de exemplo: o grande ninho em aglomerado de madeira pintado, inchou de água, tornou-se pesado e despencou da parede, matando três passarinhos e esborrachando vários ovos. Estive todo dia a refazer a estética do aviário e a imaginar que criatura inteligente me teria rogado esta praga. Inteligente, porque "praga'l burro ca ta súbi céu!"

Aí que descobri, que a maldita pessoa foi a Dona Emília Savana da Silva Borba, conhecida como Emilinha Borba, por eu não ter tido a gentileza de lhe fazer no último artigo deste blog, a "efemérida" homenagem por ocasião do V aniversário de seu falecimento (a 3 de Outubro de 2005). Foi ela sim, que voltou a cantar (só para me arreliar) a sua famosa "Tomara que chova...três dias sem parar!" Oiçam-na:
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Esta cena foi tirada de um excelente filme brasileiro do tipo "chanchada" que foi o Aviso aos Navegantes.

A história se passa num luxuoso navio, onde uma companhia teatral brasileira, com Eliana e Adelaide Chiozzo, está retornando ao Brasil depois de apresentações em Buenos Aires. Na embarcação também está um príncipe que se apaixona por Eliana, mas ela só tem olhos para o imediato do navio. Oscarito, camareiro de Eliana, embarca clandestinamente no mesmo navio, onde é descoberto pelo cozinheiro da embarcação, surge entre os dois a relação de amor e ódio, cheia de implicância. A bordo há também um perigoso espião internacional, que precisa ser detido antes que todos cheguem ao Rio de Janeiro.

Este filme era muito cómico, e cada vez que vinha ao cinema da Praia era lotação esgotada. Eu vi-o umas três vezes. Suas canções são inesquecíveis, como o "Bate o Bombo Sinfrônio" e a do "Neném". Esta, interpretada por Oscarito, é impagável:
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Mas para mim, chegara a "hora de papar". Lá subi as escadas do quintal para lanchar. Mas ... a praga não tinha acabado (esta é a 2ª), adoro manteiga e esta já tinha acabado! Fiquei com as fatias de pão a abanar no ar (como o fazia Oscarito com a chupeta) e minha mulher sugere: "põe manteiga planta!". Nem pensar! riposto eu esclarecendo: "e já estou farto de dizer que planta não é manteiga  mas sim margarina!". Continuei a lição sobre os lípidos, mas já ninguém me ouvia. "Raios! quem terá inventado a maldita margarina?!" - Resposta: "Hippolyte Mège-Mouriés (Draguignan, 24 de Outubro de 1817 - Paris, 31 de Maio de 1880) foi um químico francês a quem se atribui a invenção da margarina"

Deixei para lá o pão e sentei-me a preencher o formulário de pedido de renovação de bilhete de identidade, pois ele expirou hoje! (3ª praga?, uma por cada dia de chuva). Junto à papelada que mandara buscar, vinha o substrato do próprio bilhete. De qualquer maneira, teria de ir entregar a papelada pessoalmente, pois teriam de "ver-me a assinar!" e teria de molhar o dedo na tinta para colocar a minha impressão digital nos locais apropriados. Lembrei-me logo da recente viagem aos USA, onde à entrada é obrigatório colocar os dez dedos da mão (às vezes 8) sobre uma placa de vidro, para que  com um "scanner", se faça a identificação do sujeito (sem tintas). Acho obsoleto, esta coisa da impressão digital a tinta no BI.


Em muitos países há muito que não se usam bilhetes de identificação com impressões digitais. Vontade de protestar! Mas acedi a esta exigência, tal como o fez o pai das medidas antropométricas na investigação policial, Alphonse Bertillon,  há precisamente 108 anos. Com efeito, este opositor à dactiloscopia,  acabou por utilizar as impressões digitais no dia 24 de Outubro de 1902 para reunir provas contra Henri Léon Scheffer , no decorrer de um inquérito judicial. Este facto tornou-se histórico. Por isso, é com muito gosto que coloco o dedo na tinta, neste dia memorável para a criminologia [um outro Alphonse foi  também histórico  num dia 24 de Outubro (de 1931) ao ser sentenciado a 11 anos de cadeia: Al Capone].

Deixo-vos agora com um clipe sobre Alphonse Bertillon, o "Pai da Polícia Científica":
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domingo, 3 de outubro de 2010

Cândido dos Reis, o Romeu da República Portuguêsa

Estamos no Outono, estação dos climas temperados e sem significado para o sistema climático cabo-verdiano. No entanto, quando criança (em plena era colonial) estudávamos as quatro estações do ano, como se fosse essa a nossa realidade. As folhas caídas e amareladas das árvores, eram para nós, fruto da imaginação. As únicas "coisas amarelas" de que me lembro caírem das árvores, eram umas vagens secas de uma espécie arbórea existente na Rua Cândido dos Reis e com as quais a criançada se deleitava a fazer "ventoinhas" cruzando duas dessas vagens sobre a extremidade de um pau de carriço e fixando-as com um pequeno prego, tendo filtros de cigarros como anilhas amortecedoras.

A Rua Cândido dos Reis da cidade da Praia traz-me sempre boas recordações de infância. As citadas árvores, quando floridas, emanavam um aroma tão suave e perfumado, que me faziam, então, insistir com meus pais a passar sistematicamente por esta rua, quando passeávamos de carro pela cidade. Nessa ocasião o passeio era curto pois poucas ruas tinha a Praia. Minha mãe, de quem herdei a mania dos purismos e das precisões, esclarecia sempre que passávamos pela rua paralela à Cândido dos Reis, a "Rua d' Horta", que esta não se chamava assim, mas sim Miguel Bombarda! e acrescentava logo que a Cândido dos Reis era também "Almirante Reis" e não Cândido dos Reis. 

Estas duas ruas gémeas (não idênticas porém) vão ambas desembocar na rua da "Igreja Protestante", a dos Nazarenos, naquela ocasião denominada Rua 5 de Outubro, da qual descia também a Rua da República. Parece que a toponímia de então, insistia  no ideal republicano. Os ilustres homenageados, foram os principais promotores do movimento que se iniciava há 100 anos, a 3 de Outubro de 1910 e que conduzia à proclamação da República Portuguesa a 5 de Outubro de 1910. 

Irónicamente, estes dois amigos e companheiros, não assistiram à citada proclamação por que tanto lutaram. O Dr. Bombarda, médico, foi assassinado a 3 de Outubro desse ano, por um doente mental do Hospital de Rilhafoles e Cândido dos Reis, ao saber disso e das notícias de denúncia do golpe, pensou estar tudo perdido e matou-se (a 4 de Outubro). Triste história deste herói de origem cabo-verdiana, que me faz lembrar o final de Romeu e Julieta onde Romeu se mata pensando que Julieta estivesse morta.

A origem cabo-verdiana de Carlos Cândido dos Reis, é descrita pelo conhecido genealogista cabo-verdiano, João Manuel Oliveira, nestes termos:
"A mãe é que era da Brava. Carlos Cândido dos Reis, (sob reservas ), filho de Matilde de Azevedo, mais conhecido por Almirante Reis por causa da avenida lisboeta que leva o seu nome. Embora todos saibam o seu nome poucos sabem quem foi, facto que o escritor Luís de Stau Monteiro põe na boca de um personagem do romance Angústia Para o Jantar, (p. 18): “Quem teria sido o Almirante Reis? Que teria ele descoberto? A pólvora? Se calhar descobriu a pólvora e não disse nada a ninguém”. Nasc. a 16 de Janeiro de 1852, nat. de Lisboa, (segundo outros teria nascido em Cabo Verde, sendo baptizado em Lisboa)."
Ambos foram enterrados no mesmo dia e tiveram um funeral conjunto. Quer um quer outro, eram declarados anticlericais. De notar que ser anticlerical, não significa que se seja agnóstico ou ateu:
"O anticlericalismo propugna pela separação e não interferência entre as esferas do poder religioso e do civil. O activista anticlerical critica a acção política das instituições religiosas."  [tirado daqui]
A propósito de liberdade religiosa e separação da Igreja do Estado, acontece que neste momento, encontro-me em Provo, nos Estados Unidos, a participar no 17º Simpósio Internacional sobre Lei e Religião, a convite da Brigham Young University, universidade ligada à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (os Mormons).

Hoje, Domingo, participei na Conferência Anual da citada igreja, evento grandioso realizado em Salt Lake City num auditório de 21 mil lugares e acompanhado pelo celebérrimo Coro do Tabernáculo Mórmon.

Deixo-vos com um vídeo deste coro:

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domingo, 26 de setembro de 2010

Tim-tim por tim-tim, saibamos como aqui chega o Sol


Desde que passámos a ter criação de aves tropicais decorativas, não tenho descartado as oportunidades de me sentar no nosso jardim interior a contemplar os voos saltitantes desses seres alados e a ouvir os trinados e pios dos mesmos, numa autêntica terapia ornitológica. Muito melhor que qualquer ansiolítico para dissipar o stress, stress que é a causa de muitos dos ataques cardíacos e AVCs de que se ouve falar.

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Justamente neste dia 26 de Setembro, dedicado à problemática das doenças cardiovasculares e em que se comemora o "Dia Mundial do Coração", resolvi ficar mais tempo a contemplar os pássaros e a tomar um pouco de sol. Às tantas, surge-me o meu filho Mauro a interpelar-me sobre esta prática, para ele absurda:

- "Não tens outra coisa para fazer? Pareces um velho!"
- "Antes pelo contrário! Estou a cultivar a minha juventude! Nada como o relaxe para se manter forte e saudável e sem problemas cardíacos" - ripostei eu com um sorriso de antecipação prevendo a tirada seguinte do adolescente:
- "Juventude?! com essa idade?! ... mas... com que idade se deixa de ser jovem?"
- " Até aos 77 anos ! atirei eu, pensando na célebre frase da revista Tintim: "a revista dos jovens dos 7 aos 77 anos""
- "Estás a gozar comigo!" lamenta ele

Então expliquei-lhe de onde tirara a ideia e pedi que aguardasse um pouco. Fui ao baú das preciosidades de minha infância e passados alguns minutos, lá estava eu a fazer a "entrega oficial" da colecção da revista Tintim (em versão portuguesa) ao meu adolescente rapaz. NB: "entrega oficial" pois ele já conhecia esta colecção que eu frisava sempre ser minha e não dele. Agora passa a ser dele e o acto foi fotografado pela irmã. O simbolismo do gesto tem seu valor, pois hoje é o aniversário do lançamento da versão original belga. Esta deu à estampa em 26 de Setembro de 1946, num dia em que se comemora a revolução belga de 1830 que conduziu esse país à independência.

E lá vem o Sol de novo, vejam a capa do Tintim belga: "Le temple du Soleil". É caso para dizer: "Here comes the Sun" como o dissera George Harrison, um dos Beatles, numa música de sua autoria e do mesmo nome, surgida pela 1ª vez no álbum Abbey Road. Este álbum, tornou-se célebre por ser o último álbum a ser gravado pela banda.

Também foi em Abbey Road que George Harrison se firmou como um compositor de primeira linha. Após anos a viver à sombra de John Lennon e McCartney, finalmente empunhou dois grandes sucessos com este álbum: "Here Comes the Sun" e "Something". Ambas foram regravadas várias vezes ao longo dos anos. Abbey Road foi lançado em 26 de Setembro de 1969, mas o tributo que faço neste dia de sol, é a Harrison. Vejamo-lo a interpretar, alguns anos após os Beatles se terem desmanchado, a música que lhe deu ... "um lugar ao sol":

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domingo, 19 de setembro de 2010

Elucidativos envelopes do 1º dia, PAIGC e burros "anotados"

Já ninguém liga ao 19 de Setembro aqui em Cabo Verde! Esta data é histórica para a existência do nosso país como Estado independente: é a do aniversário da criação do PAIGC por Amílcar Cabral e por outros cinco camaradas:

  • Amilcar Cabral
  • Aristides Pereira
  • Luís Cabral
  • Fernando Fortes
  • Júlio Almeida
  • Elisée Turpin
Antes do golpe de Estado na Guiné-Bissau, que resultou na cisão do partido e no fim da célebre, mas pouco convincente, "Unidade Guiné-Cabo Verde", a data era comemorada com pompa e circunstância. Já no 2º ano de nossa independência calhou o XX aniversário da fundação do PAIGC e mais um selo comemorativo foi lançado, com o seu respectivo "envelope do 1º dia". É com prazer que vos apresento aqui o lindo selo com a esfígie de Amílcar Cabral entre a Guiné e Cabo Verde: 


Mas a primeira vez que se comemorou esta data em Cabo Verde, foi em 1974, depois do "25 de Abril" mas antes da Independência, ou seja, em plena agitação política onde as forças da UPICV (União dos Povos das Ilhas de Cabo Verde) se degladeavam contra o PAIGC, causando a este sérias preocupações passíveis de um ardente desejo de neutralizar a UPICV pela parte do PAIGC. Os leitores poderão melhor entender a palavra "neutralizar" lendo o texto de José Luís Hopffer Almada no Blog Tertúlia Crioula (ver aqui), do qual isolo este extracto:
"A neutralização, que se queria definitiva e irreversível, dos responsáveis e apoiantes da UPICV materializa-se de forma cabal, nesses dias iniciais do mês de Dezembro de 1974..."
Confesso que os militantes da UPICV eram então, deveras impertinentes. Tinham a seu serviço a "Minerva de Cabo Verde", uma tipografia familiar e com bastante notariedade em Cabo Verde (ver histórico aqui e de seu fundador) e quase que quotidianamente lançavam um panfeleto muitas vezes demolidor das afirmações e ideias veiculadas em comícios pelos políticos e militantes do PAIGC. Tinham a vantagem da imprensa, cujo produto gráfico de alta qualidade,  contrastava com os panfletos policopiados do PAIGC.

Vejamos então um destes produtos gráficos que a UPICV lançou, no dia 19 de Setembro de 1974, para achincalhar o PAIGC e troçar de três de seus juristas, cuja eloquência e argumentação irritava os manda-chuvas da UPICV:
A simbologia inserida neste trabalho gráfico, poderá ser melhor entendida pela análise do seguinte extracto do texto de José Luís H. Almada atrás referido:
"...a UPICV proclamava-se como sendo de ideologia maoísta e pró-chinesa, e, por isso, posicionava-se como contrária ao “imperialismo americano”, considerado como aliado natural do colonialismo português e dos seus “fantoches spinolistas autóctones”, e ao “social-imperialismo soviético”, de cujo expansionismo e hegemonismo o PAIGC era considerado mero instrumento e peão políticos."
De qualquer modo, acho que devo homenagear o génio da tipografia que foi Aires Armando Leitão da Graça, irmão do lider histórico da UPICV, José Leitão da Graça. Aires, era o guru das artes gráficas dessa época, tendo gerido a Minerva como nunca alguém o fizera antes. Aires foi um dos 6 presos políticos que a "neutralização" conseguiu pôr atrás das grades do Tarrafal e fazer Portugal assinar um acordo reconhecendo o PAIGC como a única força política representativa do povo cabo-verdiano!

Embora tendo lhe sido reconhecido o estatuto de Combatente da Liberdade da Pátria, Aires morreu na miséria e bastante doente. Gostava imenso de fumar cachimbo e a melhor prenda que se podia levar-lhe durante a fase da doença, era um pacote de tabaco para cachimbo. 

Porém, sou um acérrimo lutador contra o tabagismo, e termino esta crónica com mais um elucidativo envelope do 1º dia, desta feita, sobre a "luta contra o tabagismo", lançado há 30 anos atrás, em 19 de Setembro de 1980:




domingo, 12 de setembro de 2010

O caso da Fotografia Misteriosa

Neste Domingo, 12 de Setembro, abro o Fotolog e dirijo-me ao da minha amiga e prima, Amélia Monteiro, para encontrar esta fantástica fotografia:


O intróito da página de Amélia para este dia, começa assim:
"Achei interessante esta foto "preta" encontrada no fundo do baú e lembrei-me de fazer uma cópia. A foto foi feita no Fogo mas não sei onde teria sido revelada. Trata-se de uma foto feita sobre um papel brilhante e negro e a foto em si é só uma leve película que parece uma gelatina fina colocada sobre o fundo negro. Na reprodução não se nota bem. Olhando para o lado esquerdo a mancha preta é um pedaço da tal gelatina que já saiu. Quem conhece este sistema?"
Esta foto de 1933, é de Agnelo Henriques e António Macedo Barbosa, com suas respectivas famílias à frente. Agnelo Henriques foi um dos fundadores dos Sokols de Cabo Verde. Independentemente do imediato aproveitamento da foto para ilustrar a árvore genealógica que desenvolvo, (pois todos os da foto são parentes meus), fiquei curioso sobre o sistema desta fotografia misteriosa, que me fazia lembrar as tiras hawid que usava em filatelia para fixar os selos nas páginas dos álbuns.

Estas tiras são constituídas por duas películas plásticas, uma negra e aderente e outra transparente. Cortava-se (com uma guilhotina) a tira à medida do selo e introduzia-se este entre as películas com, obviamente, a face virada para a película transparente. Colava-se então a parte adesiva da película negra, no rectângulo do álbum reservado ao selo em questão. A parte negra e brilhante do fundo surgia circuncidante ao selo, dando a este todo o merecido realce e a parte transparente conferia uma muito melhor protecção que a das mais clássicas e baratas charneiras.

Ainda me lembro da alegria que tive ao colar um exemplar do primeiro selo de Cabo Verde na primeira página do álbum de selos da então província de Cabo Verde. O valor facial mais baixo dessa edição era o de 5 reis. Um selo gravado a branco sobre fundo negro, com a coroa portuguesa ao centro. Foi pena não ter podido completar a série destes selos, que foram lançados em Cabo Verde no dia 12 de Setembro de 1877, fazem hoje precisamente 133 anos. Resta-me o consolo de ter podido adquirir o envelope do primeiro dia dos selos comemorativos do "centenário do selo cabo-verdiano". Eis digitalizado o envelope que menciono:


Voltemos agora à fotografia que Amélia publicou. Mantém-se o mistério da técnica utilizada. Na realidade em 1933 já esta técnica estava ultrapassada, mas em Cabo Verde desse tempo, as coisas levavam muito tempo a serem usadas e as inovações demoravam a chegar. A técnica em questão era a do ferrotipo, inventada em 1853 e posta de lado no fim do século XIX:
"Processo constituído por um negativo de chapa húmida de colódio com um fundo escuro para a formação do positivo; mas ao invés de usar verniz ou pano escuro, era utilizada uma folha de metal esmaltada de preto ou marrom escuro, como suporte do colódio"
Veja o todo deste extracto (aqui)
Eis que se desvendou "O caso da Fotografia Misteriosa". Porém, não posso deixar de recordar um dos livros da colecção Vampiro que ostentava este mesmo título e que guardo religiosamente na ala da minha biblioteca dedicada aos livros policiais de Erle Stanley Gardner, um dos meus autores preferidos. Vejamos a sinopse:
" Livro de mistério policial lançado em 1934 da série Perry Mason pelo autor prolífico Erle Stanley Gardner. Um artista que promove concursos de beleza em cidades pequenas da Califórnia convence os comerciantes locais a doarem dinheiro para o evento, e à vencedora é prometido um contrato para um filme em Hollywood. N verdade, nenhum contrato existe, e o promoter evade-se com o dinheiro. Diversas mulheres jovens já cairam nesse esquema quando o Perry Mason é empregado para encontrar um delas, Marjorie Clune, que trabalhou no esquema e está tentando ela mesma sucesso em Hollywood. O promoter inescrupuloso do evento é assassinado e então, Marjorie transforma-se na principal suspeita."
Aquando da minha estadia nos Estados Unidos para fazer o PhD, tive o ensejo de desfrutar de várias "cerejas no topo do bolo" ao seguir as séries televisivas de Perry Mason, quer as a branco e preto (dos anos 60) quer as modernas, a cores (dos anos 80). Ambas eram protagonizadas pelo insofismável actor canadiano Raymond Burr. Sendo hoje o 17º aniversário do seu falecimento, deixo-vos com este clip, em homenagem ao fantástico actor:


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domingo, 22 de agosto de 2010

O caso do lacrau da Vitrola


Ontem, após algumas horas a seguir os programas do TV5 Monde (devido à chuva não houve "Baía das Gatas" nessa noite), lembrei-me que no dia seguinte era Domingo, dia de escrever para o Blog. Sem inspiração nenhuma (há semanas que não a tenho) fui à janela de minha sala, olhar para a praça Alexandre Albuquerque, naquela hora deserta (já passava da meia-noite). Para contrastar com a noite anterior, a praça, de imperceptível iluminação eléctrica, resplandecia de matizes prateadas propiciadas por um intenso luar, de lua cheia ainda meio escondida por escassas nuvens de chuva. Ainda com a TV5 ligada, me veio à mente uma cantiga infantil gaulesa:
Au clair de la lune, mon ami Pierrot
Prête-moi ta plume, pour écrire un mot.
Mais precisava do "mot" que da "plume"! Olhei para o coreto vazio e imaginei-o mais tarde com a banda municipal a tocar suas animadas e sonoras peças, à base de clarinetes, tubas, trombones, cornetas e trompetes, muito "sopradas" para o meu gosto.

Quem teria mandado construir o coreto e dinamizado este já bem antigo hábito, da banda municipal aos Domingos? Lembrei-me logo do nome de Abílio Monteiro de Macedo, um dos melhores presidentes de câmara que a Praia já teve. Fui vasculhar nos meus registos e encontrei esta descrição que transcrevo:
"Foi membro do Conselho do Governo em 1917; presidente da Câmara Municipal do Fogo (1922) e presidente da Câmara Municipal da Praia (1923-28), tendo dado um grande avanço aos trabalhos municipais desde obras no mercado ao melhoramento da luz eléctrica, da banda de música ao calcetamento das ruas."
Abílio de Macedo foi um homem multifacetado: político, maçon, autarca, comerciante, proprietário, armador, director de jornal, etc. Mas, das minhas recordações, me lembro que foi um grande amigo da nossa família. Era padrinho de minha mãe e reinava uma profunda e real amizade entre ele e meu avô Antoninho, seu compadre. Após a "... exoneração do cargo de presidente da câmara, concedida em 25 de Maio de 1928 e a renúncia do mandato de vogal do Conselho do Governo, concedida em 26 de Maio de 1928" Abílio Macedo mais se dedicou à actividade comercial. Como armador, conhecia bem as leis marítimas e chegou a arrematar em hasta pública, todo o conteúdo de um navio americano que encalhara nos mares da Boavista. Nesta carga, constavam duas ou três vitrolas, que Abílio não vendeu, tendo oferecido uma ao meu avô Antoninho para que este melhor decorasse a sala da sua recém adquirida (1930) casa (esta onde moramos).

E é desta vitrola que vos quero falar hoje, máquina lançada pela Victor Talking Machine Company no mercado americano, em 22 de Agosto de 1906 (fazem hoje 104 anos). Em criança ouvia os mais velhos chamar ao mono, de gramofone (só recentemente vim a saber que estavam enganados pois gramofone eram os de corneta externa, sem caixa de ressonância). Eu adorava esquivar-me para a sala de visitas (geralmente fechada) para ir colocar os discos de 78 rotações no "gramofone" e fazer passos de dança ao som de fox-trots e valsas.

Minha mãe brigava, pois tinha medo que me ferisse com as agulhas de aço enferrujadas. "Podes apanhar tétano", dizia ela ao mesmo tempo que me fazia sair da sala. Algum tempo depois começou o período de vacinas e lá ia eu insistindo para tomar a do tétano. Assim foi feito, na Cruz Vermelha da cidade (era onde naquele tempo se ministravam vacinas) e fiquei por isso mui grato à instituição (que completa hoje 146 anos), pois já podia tocar o "gramofone" a meu bel prazer e a contragosto de minha mãe.

Mas, um belo dia, ao abrir a tampa da vitrola, salta-me de lá dentro um lacrau (pequeno escorpião cá das ilhas, creio, já extinto) ! Corri esbaforido para a sala de jantar, onde meus pais iam iniciar o almoço, gritando de medo. Após verificação do ocorrido e de que o aracnídeo não me picara, meu pai de sorriso maroto me tranquilizou enquanto minha mãe sentenciava: "bem feito! assim deixas o gramofone em paz!"... e deixei mesmo (até regressar da faculdade, quinze anos mais tarde).

Apresento-vos então "O GRAMOFONE":




Com o "clair de lune" girando no meu cérebro, procurei se porventura esta ária de Debussy se encontrava entre os inúmeros discos de 78 rotações que eram guardados em compartimento próprio da vitrola. Não encontrei. Pena! ... os violinistas do Festival da Baía das Gatas bem ma poderiam tocar, nesta noite de luar em que se celebra o 148º aniversário do nascimento deste grande compositor francês.

Não faz mal! Encontrei uma excelente interpretação do "Clair de Lune" tocada por um violinista. Ofereço-vo-la em guisa de despedida:


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domingo, 6 de junho de 2010

Estrelados ovos, expressiva pintura e roupa lavada

Ontem Sábado, houve cachupa em nossa casa. Como manda a tradição, no dia seguinte (hoje), ao pequeno-almoço serve-se a conhecida cachupa refogada, com linguiças da terra e ovo estrelado!

- "Mauro! hoje vais tu preparar a cachupa" - diz a mãe com um sorriso jocoso.
- "Coitado... nem sabe estrelar um ovo!" - remata a irmã

Com este remate, pus-me a reflectir sobre a frase, e reparei que para quem já cozinhe, estrelar um ovo lhe parece coisa tão fácil que o mais comum dos mortais é capaz de o fazer.

Será mesmo assim tão fácil? Algumas perguntas:
  • Como se quebra o ovo? Numa tigela ou num prato? directamente para a frigideira?
  • Numa frigideira de chapa grossa ou fina? Sobre uma placa aquecida e untada?
  • Um fio de azeite ou muito óleo para que se possa regar a gema com essa gordura?
  • Azeite, óleo ou manteiga?
  • Gema no final, líquida ou cozida?
  • Primeiro verte-se a clara e no fim a gema, ou de uma só vez?
  • E o sal? em cima da gema, só na clara ou em ambos? Quando é que se polvilha o sal?
  • Estrela-se um a um ou em grupo?
Bem, na realidade, isto é um pouco "à vontade do freguês!" Podemos dizer que em certa medida, deve-se distinguir entre um ovo estrelado mal passado (bom para cavalgar um bife e servir de fonte de líquido amarelo onde se pode embeber pedaços de carne ou de pão, à medida que se consome o prato) e um ovo estrelado bem passado (quando o ovo em si é a iguaria e o resto o acompanhante).

No meu entender, para um ovo estrelado mal passado, um fio de azeite sobre uma placa térmica (ou frigideira de chapa grossa e película aderente), dará o melhor resultado. Sal só sobre a gema, a meio percurso. Ovos da terra, de gema bem avermelhada, são os mais saborosos. Aqui o que se quer é "sentir o ovo!", ou seja, pôr a ênfase na intensidade do gosto.

Para um ovo estrelado bem passado, aconselho usar azeite à vontade para poder ser recolhido por uma colher e vertido em momento certo sobre a gema. Previamente, pode-se alourar um dente de alho no azeite (e/ou uma folha de louro). Retirar estes ingredientes do azeite, baixar o lume e abrir os ovos (vereficados frescos) sobre o azeite (dois ovos no máximo de cada vez). Ao esbranquecer da clara, polvilhar a gema de sal fino, aumentar de novo o lume, inclinar a frigideira e com uma colher de sopa verter o azeite quente sobre a gema até que fique cozida. Há quem prefira com uma espátula, revirar o ovo de cabeça para baixo, deixando a gema em contacto directo com o fundo da frigideira. No fim, pode-se cobrir com uma fatia fina de queijo flamengo e polvilhar com pimenta. Ou então deixar uma noz de boa manteiga se derreter sobre o ovo, salpicando-a de salsa ralada. Um ovo bem passado, é um combóio de suaves aromas pelo palato em deleite!

Antes de ir fazer o pequeno-almoço, mandei o Mauro experimentar estrelar um ovo. Saiu-se bem, embora deixasse respingar gordura quente na camisa branca que usava. A mãe mandou imediatamente colocar a camisa num alguidar com detergente. "Persil" (como salsa em francês) lia-se no boião de detergente líqido.

Fiquei curioso por saber a razão de tão estranho nome. Salsa?! Não é que uma longa história se esconde atrás desta marca (PERSIL foi lançado em 6 de Junho de 1907) cujo nome vem da junção de PERborato e SILicato de sódio, ingredientes da fórmula original! Já que estou nas efemérides do dia, o ferro de engomar eléctrico que será usado logo à noite, viu sua invenção também num dia 6 de junho (de 1882) por Henry Seely of New York City.

Finalmente: "quem foi o célebre pintor que pintou os ovos estrelados da velha?" Asks um imaginário amigo meu. (hoje é o aniversário do nascimento do artista... claro!)
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domingo, 30 de maio de 2010

Melódica alegria entre um mel branco a um Mel Blanc

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O nosso Orfeão da Praia, teve no dia 19 de Maio, dia do município, uma actuação histórica que deixou todos os seus membros bastante orgulhosos e com auto-estima nas alturas! Na véspera, sentia-me bastante apreensivo, pois minhas cordas vocais poderiam falhar, uma vez que estava constipado e sentia um incomodativo muco a escorrer pela garganta. Tratei logo de fazer o tratamento clássico do mel de abelha tomado lentamente às colheres. Felizmente há num dos super-mercados da capital, um mel francês de aparência turva e de cor muito clara, que, ao que parece, é de uma eficácia notável, sendo na realidade, um "Miel Blanc" de flores seleccionadas.

Para comemorar o bom desempenho havido, o Orfeão decidiu organizar um pic-nic convívio num local aprazível e perto da cidade. Foi assim que ontem dia 29, fomos a um local denominado "Sítio" em São Martinho Pequeno. Trata-se de uma propriedade rural num vale verdejante, onde o dono resolveu construir uma espécie de local de lazer, próprio para pic-nics e festas de grupos como o nosso (ver cartaz ao lado).


Na realidade foi um dia bem passado entre assadas, guitarradas, banhos de piscina ("sort of"), danças, anedotas, jogos de bisca, etc. O local era de facto interessante e tinha algum equipamento para crianças, como baloiços, dispositivos eléctricos para montar e "cavalgar" e poucos mais. Crianças, pic-nics e "Sítio" com logotipo de arara, trouxeram-me à mente o célebre programa da Rede Globo: "O Sítio do Pica-pau Amarelo" baseado na obra do mesmo nome de Monteiro Lobato. (clique na figura e aprecie o genérico do programa)


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No artigo anterior do dia 16, falara dos "Marretas" e da "Rua Sésamo". Agora vejo-me a evocar os personagens desse tal programa brasileiro. Tentei imaginar o "pica-pau amarelo" mas o que me vem desde ontem à mente é o "Woody Woodpecker" com a sua inconfundível risada. Oiçam-no nesta polka:


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A risada do Woody, foi criada por um imitador de vozes, que se celebrizou por estar atrás das vozes de mais de 400 personagens de desenhos animados americanos. Nada mais nada menos que o "homem das 1000 vozes" o inigualável Mel Blanc ! (será que tomava também o "miel blanc" de que falei?). Este fantástico artista, nascido em 30 de Maio de 1908 (faria hoje 102 anos se estivesse entre nós), notabilizou-se pela voz do Pernalonga (Bugs Bunny). Vejamos agora uma entrevista que Mel Blanc concedera no "Late Night Show" de David Letterman:


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domingo, 16 de maio de 2010

O Sésamo que transportou a família ao palco


Ontem, dia 15, foi o dia internacional da família, dia instituído pelas Nações Unidas em 1993. Por ter caído este ano num Sábado, foi mais fácil engendrar um programa com a família, que, penso, foi de agrado para todos. Porém, mais fácil seria se nossos filhos fossem crianças, pois, as horas mortas seriam preenchidas com programas educativos de maior valor acrescentado que os banais, muitas vezes violentos, desenhos animados modernos.

Hoje, resolvi confeccionar um prato à moda japonesa. Não, nada de peixe cru. Tratava-se de:

Pato assado desfiado em molho teriyaki acri-doce, com sementes de sésamo tostadas.

Não penso ser necessário dar-vos a receita de pato assado. Vou apenas vos falar do molho acri-doce teriyaki:


Ingredientes (doses a olho conforme o volume da carne a que se vai juntar o molho):
  • Sementes de sésamo
  • Óleo alimentar
  • Uma colher de manteiga
  • Açúcar mascavado
  • Molho Teriyaki
  • Vinagre balsâmico
  1. Começar por doirar as sementes de sésamo (de gergelim no Brasil) no óleo alimentar.
  2. Quando a cor lhe agradar deite a colher de manteiga e abrande o lume
  3. Junte o molho teriyaki, o vinagre e o açúcar mascavado, mexendo incessantemente até engrossar
O treino ajudá-lo-á a chegar à dose certa dos ingredientes que satisfaça o seu gosto e o de seus convivas.

A arte de cozinhar, é a meu ver, baseada em três princípios subjectivos que não estão nunca claros nas receitas (nem podiam). Estes princípios têm paralelo na gestão do nosso dia-a-dia, pelo que a cozinha é uma autêntica lição de vida. Senão vejamos:
  • Princípio da dose (na vida: ser ponderado): os temperos e ingredientes devem ser bem escolhidos e obedecer a proporções criteriosamente sincronizadas em função do prato em vista.
  • Princípio do momento certo (na vida: sentido da oportunidade): os ingredientes não se colocam ao mesmo tempo, nem em qualquer ordem. O momento certo para cada ingrediente é crucial para o sucesso do prato!
  • Princípio da temperatura certa (na vida: entre a serenidade e o vigor das emoções): as reacções químicas que se sucedem, diferem consoante a energia recebida, pelo que por vezes devemos dar escaldões e por vezes o lume deve ser brando. A temperatura pode também ser regulada internamente, consoante o tipo de óleo usado (a manteiga reduz a temperatura do meio e o azeite aumenta).
Enquanto comíamos, um de meus filhos perguntou o nome das sementinhas castanhas e deliciosas que identificara no molho. Ao lhe responder "sementes de sésamo" seus olhos brilharam e evocou o célebre "Rua Sésamo" dizendo: "o nome daquele programa do pássaro amarelo ... o Poupas!".

Não sei porquê, mas logo pensei no dia anterior, o tal da família em que programas destes viriam a preceito. O pior veio mais tarde, quando em frente do computador, procurando as efemérides do dia, deparo com o vigésimo aniversário da morte do "pai dos bonecos do Sésame Street" o famoso Jim Henson. Creio que vou perder a credibilidade junto de meus leitores, se disser que é mais uma coincidência, mas o facto é que lá estava a data do falecimento deste grande criador de marionetas. Lembro-me perfeitamente desse dia em que Jim morreu, pois encontrava-me nessa altura nos Estados Unidos a doutorar-me. Durante dois dias não se falava noutra coisa senão no desaparecimento físico do autor dos "Marretas". lembram-se do genérico? ... Ei-lo:

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Mas nesse triste dia, faleceu também uma outra grande figura do entretenimento. Os noticiários repartiam seu tempo e homenagens entre Jim Henson e Sammy Davis Jr. Porém, devido ao preconceito a proporção das notícias pendia a favor de Henson. Segundo a biografia apresentada no UOL Educação (ver aqui): "A carreira de Sammy Davis foi bastante prejudicada pelo preconceito racial, que limitou seus papéis no cinema, mesmo considerando sua parceria com amigos do Rat-Pack como Frank Sinatra e Dean Martin. O artista, porém, compensava com espetáculos ao vivo, tendo uma agenda constantemente lotada e casa cheia. "Gostem ou não de mim, eles sabem que meu espetáculo vale o dinheiro que gastaram com o ingresso", disse ele numa entrevista."

Para finalizar, vejamos um clip deste grande entertainer que faz ao seu lado, a imitação de um outro grande: Nat King Cole. Até parece um show dos Marretas!:


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