domingo, 24 de maio de 2009

O Kapa em mim: da total confiança ao cepticismo afirmado

Se para um indivíduo amante da Ciência, o X é uma incógnita, o K é certamente uma certeza: o símbolo do Potássio, a constante de Boltzmann, a unidade da temperatura absoluta (o Kelvin), etc. são disso exemplos paradigmáticos. Mas, não obstante os significados do que acabo de dizer serem para mim uma evidência, não é de matérias científicas que vos vou falar. Falar-vos-ei de algumas recordações e factos associados à letra K que, de uma maneira ou de outra, causaram-me uns, agradáveis emoções, outros, emoções de cepticismo e repúdio:
  1. Maria Helena Pereira Fogaça (1928-1984), era o nome de uma das melhores professoras de Liceu que jamais tive. A senhora era um espectáculo em matéria de matemática, fazendo-me apanhar o gosto por esta disciplina. Ela não falava nas aulas senão de Matemática e sabia manter o respeito. Eis uma história que não contei no artigo que publicara em tempos, sobre a vivência no Liceu Adriano Moreira (ver aqui): Fogaça explicava as séries e lá ia ela desfilando uma sucessão de k1, k2, k3, .... e ia dizendo "capa um", "capa dois", "capa três"...; nisto, ouve-se uma voz do fundo da sala a dizer "capa tudo alguén...". Risos! ... Fogaça, sem se virar do quadro, profere: "Sr. Vaz, faça o favor de sair da sala ... capa quatro, capa cinco....", continuando a série "castradora" como se de nada se tratasse. Os risinhos tornaram-se abafados e foram-se amortecendo à medida que o "Sr Vaz", cabisbaixo, encaminhava-se para a porta.
  2. Quando cheguei a Tucson - Arizona em 1986 para fazer o Doutoramento, fui morar para um castiço condomínio perto da universidade. Ainda sem carro, o posto de abastecimento alimentar mais próximo era uma das tais "convenience stores" denominada Circle K. Tornei-me assíduo frequentador desse "Círculo Kapa" como jocosamente designava o local, com a minha mania de então, em aportuguesar propositadamente todos os nomes de lojas das redondezas. Mais tarde vim a descobrir outros locais mais em conta, mas guardo até hoje em memória o grande K do símbolo (ver a figura do topo).
  3. Tinha eu 14 anos e meio quando fui pela segunda vez a Portugal com meus pais, acompanhando-os na sua 2ª licença graciosa. Minha prima Lena também se encontrava com os pais em Portugal. Ela (então com 16 anos) tinha o cabelo alourado e, por ser branca de pele, ninguém suspeitaria (em Lisboa naqueles preconceituosos tempos) que éramos primos em primeiro grau. Descíamos de mãos dadas o Parque Eduardo VII e Lena, que acreditava em "quiromancia", fez-me ler a sina por uma cigana. Esta pega-me na mão e após passar uma rápida olhadela pela Helena vaticina: "... vejo um futuro risonho à sua frente; há uma moça loira muito rica, que lhe quer bem e que está apaixonada por si... Ela é tímida mas acabarão por se casar e ter dois filhos...". Foi assim que o K, que nas línguas semitas representava a "mão", fez-me cimentar o cepticismo que já nutria pelas crendices dos advinhos.
  4. Recentemente, tive de fazer uma incursão sobre os perigos do uso do ALUPEC num sistema que se quer (será?) bilingue. Já não é de agora que falo disso (ver aqui). Porém, aquando das Jornadas Parlamentares do MpD, apresentei uma comunicação, onde a dado passo escrevi: "A campanha do alfabeto fonológico e kapiano só faz criar um asco e uma relutância à língua portuguesa que sob essa luz nos parece ser uma língua marciana, complicada e … não nossa. A expressão “nôs língua é cauberdianu” diz, por inferência, que o português não é nosso! ". Isto valeu-me de alguns que são amantes do monolinguismo, ou seja do Caboverdiano como língua oficial única de Cabo Verde, alguns meio-insultos e desconsiderações. Para mim, assim como para muitos outros (ver artigo de Napoleão Andrade aqui), não há razão nenhuma de substituir o C pelo K, pois sendo o Caboverdiano uma língua latina, deve manter a convenção sobre o K (quando as palavras provenientes do grego foram assimiladas pelo latim, o K foi convertido em C) das demais línguas românicas!
  5. Mas a minha pior experiência com o K é a das injecções dessa vitamina, que me via obrigado a tomar em criança, em virtude do constante sangrar pelo nariz (EPISTAXE) de que padecia. Por ser oleosa esta vitamina K, era uma dor terrível que sentia durante a injecção que o Sr. Agnelo, o vizinho enfermeiro, me aplicava com um amável sorriso, óculos de plástico negro e palavreado oco de um "não vai doer..não dói...já passou!". A vitamina K tem efeito coagulante e pode ser usado no tratamento da hemofilia
Pois bem! Acontece que hoje comemoram-se os 190 anos do nascimento da Raínha Victória de Inglaterra. Esta senhora ficou conhecida por ser a monarca com o reinado mais longo do Reino Unido, mas também por ser a primeira transportadora conhecida de hemofilia na realeza.

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