Se para um indivíduo amante da Ciência, o X é uma incógnita, o K é certamente uma certeza: o símbolo do Potássio, a constante de Boltzmann, a unidade da temperatura absoluta (o Kelvin), etc. são disso exemplos paradigmáticos. Mas, não obstante os significados do que acabo de dizer serem para mim uma evidência, não é de matérias científicas que vos vou falar. Falar-vos-ei de algumas recordações e factos associados à letra K que, de uma maneira ou de outra, causaram-me uns, agradáveis emoções, outros, emoções de cepticismo e repúdio:
- Maria Helena Pereira Fogaça (1928-1984), era o nome de uma das melhores professoras de Liceu que jamais tive. A senhora era um espectáculo em matéria de matemática, fazendo-me apanhar o gosto por esta disciplina. Ela não falava nas aulas senão de Matemática e sabia manter o respeito. Eis uma história que não contei no artigo que publicara em tempos, sobre a vivência no Liceu Adriano Moreira (ver aqui): Fogaça explicava as séries e lá ia ela desfilando uma sucessão de k1, k2, k3, .... e ia dizendo "capa um", "capa dois", "capa três"...; nisto, ouve-se uma voz do fundo da sala a dizer "capa tudo alguén...". Risos! ... Fogaça, sem se virar do quadro, profere: "Sr. Vaz, faça o favor de sair da sala ... capa quatro, capa cinco....", continuando a série "castradora" como se de nada se tratasse. Os risinhos tornaram-se abafados e foram-se amortecendo à medida que o "Sr Vaz", cabisbaixo, encaminhava-se para a porta.
- Quando cheguei a Tucson - Arizona em 1986 para fazer o Doutoramento, fui morar para um castiço condomínio perto da universidade. Ainda sem carro, o posto de abastecimento alimentar mais próximo era uma das tais "convenience stores" denominada Circle K. Tornei-me assíduo frequentador desse "Círculo Kapa" como jocosamente designava o local, com a minha mania de então, em aportuguesar propositadamente todos os nomes de lojas das redondezas. Mais tarde vim a descobrir outros locais mais em conta, mas guardo até hoje em memória o grande K do símbolo (ver a figura do topo).
- Tinha eu 14 anos e meio quando fui pela segunda vez a Portugal com meus pais, acompanhando-os na sua 2ª licença graciosa. Minha prima Lena também se encontrava com os pais em Portugal. Ela (então com 16 anos) tinha o cabelo alourado e, por ser branca de pele, ninguém suspeitaria (em Lisboa naqueles preconceituosos tempos) que éramos primos em primeiro grau. Descíamos de mãos dadas o Parque Eduardo VII e Lena, que acreditava em "quiromancia", fez-me ler a sina por uma cigana. Esta pega-me na mão e após passar uma rápida olhadela pela Helena vaticina: "... vejo um futuro risonho à sua frente; há uma moça loira muito rica, que lhe quer bem e que está apaixonada por si... Ela é tímida mas acabarão por se casar e ter dois filhos...". Foi assim que o K, que nas línguas semitas representava a "mão", fez-me cimentar o cepticismo que já nutria pelas crendices dos advinhos.
- Recentemente, tive de fazer uma incursão sobre os perigos do uso do ALUPEC num sistema que se quer (será?) bilingue. Já não é de agora que falo disso (ver aqui). Porém, aquando das Jornadas Parlamentares do MpD, apresentei uma comunicação, onde a dado passo escrevi: "A campanha do alfabeto fonológico e kapiano só faz criar um asco e uma relutância à língua portuguesa que sob essa luz nos parece ser uma língua marciana, complicada e … não nossa. A expressão “nôs língua é cauberdianu” diz, por inferência, que o português não é nosso! ". Isto valeu-me de alguns que são amantes do monolinguismo, ou seja do Caboverdiano como língua oficial única de Cabo Verde, alguns meio-insultos e desconsiderações. Para mim, assim como para muitos outros (ver artigo de Napoleão Andrade aqui), não há razão nenhuma de substituir o C pelo K, pois sendo o Caboverdiano uma língua latina, deve manter a convenção sobre o K (quando as palavras provenientes do grego foram assimiladas pelo latim, o K foi convertido em C) das demais línguas românicas!
- Mas a minha pior experiência com o K é a das injecções dessa vitamina, que me via obrigado a tomar em criança, em virtude do constante sangrar pelo nariz (EPISTAXE) de que padecia. Por ser oleosa esta vitamina K, era uma dor terrível que sentia durante a injecção que o Sr. Agnelo, o vizinho enfermeiro, me aplicava com um amável sorriso, óculos de plástico negro e palavreado oco de um "não vai doer..não dói...já passou!". A vitamina K tem efeito coagulante e pode ser usado no tratamento da hemofilia
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