domingo, 3 de agosto de 2008

Pidjiguiti, apenas o vejo no selo



Nunca visitei esse "punho" mas admiro e prezo muito o selo cabo-verdiano comemorativo do 20º aniversário do Massacre de Pidjiguiti. O envelope do primeiro dia ainda é mais vibrante. Apreciem-no!

Mas ... já ninguém neste país (ou quase) se lembra da importância que a este dia (3 de Agosto) lhe davam os dirigentes do PAIGC aqui em Cabo Verde. Era até feriado nacional. Não sou o único a manifestar esta estranheza, vejam o que Miguel Barbosa apregoava há já um ano no seu blog Ziquizira:
"Lembro-me de que na escola primária tínhamos um texto alusivo a essa data e de quão importante era para a Historia de nosso país. Hoje em dia ninguém mais fala no Massacre de Pidjiguiti, nem sequer nosso partido africano que a toda a hora nos tenta convencer de que nos é credor da independência, no que parece ser mais uma tentativa (Camarada Estaline está entre nós!) de reescrever a História."
Ao que parece, os estivadores do porto de Pidjiguiti eram explorados e reivindicavam melhores salários das várias companhias exportadoras que precisavam de seus serviços. Vejamos um extracto do texto intitulado:

"...Acordo estabelecido, as várias firmas comerciais começaram a pagar aos marinheiros o novo salário. Porém, a Casa Gouveia não procedeu ao aumento e continuou a pagar pela tabela do ano anterior. Passaram-se meses e os marinheiros questionavam o gerente - na altura o ex-funcionário do quadro administrativo Intendente Carreira - sem resultados e até com uma certa sobranceria, tique que lhe deve ter ficado dos tempos de funcionário administrativo. Com o descontentamento a aumentar e ânimos cada vez mais exaltados se chegou à tristemente célebre tarde de 3 de Agosto de 1959."
Carreira
era nada mais nada menos que o conhecido e incontornável investigador cabo-verdiano António Carreira. É engraçado como a casmurrice deste valoroso cabo-verdiano deu origem à morte de 50 estivadores (segundo o PAIGC) e que muitos escamoteiam este facto infeliz na vida do conhecido historiador. Não foi ele que deu a ordem de matar, vejam mais esta parte da narrativa de Mário Dias:
"Entretanto, o comandante militar, tenente-coronel Filipe Rodrigues, chegado ao local inteirou-se da situação e, ao ver aquele grupo armado de remos, paus, etc. a marchar agressivamente em direcção à Casa Gouveia, deu ordens aos polícias para dispararem por ser a única forma de os deter."
Este texto do "furriel dos comandos Mário Dias, [que] foi um dos homens que esteve presente, quando o exército interveio em Pidjiguiti, e o seu testemunho é extremamente elucidativo, pois permite perceber o papel do exército neste drama, e filtrar a verdade dos acontecimentos", dá a visão de um português que mostra ter o PAIGC se aproveitado do facto para tirar dividendos políticos:
"O PAIGC aproveitou-se inteligentemente deste movimento, como sempre fez - o que só nos merece admiração - para conquistar mais uns tantos seguidores."
Não obstante as opiniões, o que é certo é que o dito massacre (politicamente aproveitado ou não) foi o ponto crucial da reviravolta da história em direcção à independência da Guiné e de Cabo Verde. Poderão disso se aperceber no clip de vídeo encontrado aqui e cujos 90 primeiros segundos se seguem:

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