Kutum Ben Ben, não se trata do filho do filho da árabe Kuttum, a minha quadragésima avó (e de Amélia também) filha do profeta Maomé!
Trata-se pois deste horrendo, grotesco e implacável bicharoco que nas ilhas setentrionais cabo-verdianas também responde por "Contchinha Dóna Dóna". Notem, meus caros, a sonoridade destes nomes, bem como a da lengalenga infantil "dam papa pan dau leti"(como defendo o bilinguismo, traduzo: "dá-me papa para que te dê leite") usada pelas nossas crianças quando tentam fazer sair o energúmeno bicho de dentro do funil de areia que constrói para: apanhar, maltratar, paralisar e devorar formigas que distraidamente ali tombarem. Esta sonoridade tem o ritmo onomatopaico (virtudes da língua cabo-verdiana) dos movimentos violentos e sincopados do animal ao bombardear as vítimas com areia, bem como da sua forma de locomoção em marcha-a-trás.
Pois é, este indivíduo é uma larva de um insecto da ordem dos Neurópteros que por ser uma autêntica fera para as formigas fez com que o adulto tivesse o nome científico de Myrmeleon, ou seja o de formiga-leão.
Pois é, este indivíduo é uma larva de um insecto da ordem dos Neurópteros que por ser uma autêntica fera para as formigas fez com que o adulto tivesse o nome científico de Myrmeleon, ou seja o de formiga-leão.
Vejam agora um vídeo profissional da National Geographic onde se pode observar o Kutum Ben Ben em acção:
Como poderão constatar no pequeno vídeo a seguir, o animal adora andar de marcha-a-trás quando retirado da toca:
Este comportamento é aproveitado (colocando a larva sobre as zonas erogéneas) pelas crianças com idades próximas da puberdade, para fazerem aparecer mais rapidamente os pelos púbicos, ou para verem crescer os seios em pouco tempo. Claro que isto não passa de um mito, embora alguns supostamente eruditos "bolam" a explicação de uma massagem dos vasos capilares pelas cócegas provocadas pelo insecto, fazendo com que haja mais sangue a trazer hormonas e nutrientes para essas zonas.
Agora, devem vocês estar a perguntar, porque será que eu estou a falar deste animal num blog de assuntos "não científicos e mais ligados à biografia do autor". É que sempre tive paixão por insectos (podem discernir uma pequena colecção de insectos numa caixa que ostento na foto ao lado) e um belo dia deparei com o nome de formiga-leão debaixo de uma foto do Kutum Ben Ben. Porém a legenda dizia ser uma larva, e fiquei curioso por saber qual dos insectos da minha colecção seria progenitor deste popular animalzinho.
Peguei então de uma caixa de cartão forte com tampa, adaptei um vidro na tampa para que se pudesse ver o interior da caixa e enchi a mesma até 2/3 com terra arenosa. Cacei bastantes Kutuns e pu-los sobre a terra da caixa. Trataram logo de se enfiar nessa terra e no dia seguinte lá estavam os célebres funis de caça. Alimentei-os com formigas e passado muito tempo (já estava quase a desistir) tive o prazer de ver esvoaçar na caixa, dois belíssimos exemplares de formiga-leão adultos! NB: tive sorte, pois a vida de uma larva antes da metamorfose (vim a saber depois) , é de cerca de dois anos.
Os adultos são uns bichinhos encantadores que só voam à noite e se alimentam de seiva e de néctar de flores! Quem diria? São conhecidos por "paga-candeia", pois, ao esvoaçarem à volta de lamparinas e "podogós" acabam por os apagar.
Eis então em rodapé, fotos deste magnífico Neuróptero:
Agora, devem vocês estar a perguntar, porque será que eu estou a falar deste animal num blog de assuntos "não científicos e mais ligados à biografia do autor". É que sempre tive paixão por insectos (podem discernir uma pequena colecção de insectos numa caixa que ostento na foto ao lado) e um belo dia deparei com o nome de formiga-leão debaixo de uma foto do Kutum Ben Ben. Porém a legenda dizia ser uma larva, e fiquei curioso por saber qual dos insectos da minha colecção seria progenitor deste popular animalzinho.
Peguei então de uma caixa de cartão forte com tampa, adaptei um vidro na tampa para que se pudesse ver o interior da caixa e enchi a mesma até 2/3 com terra arenosa. Cacei bastantes Kutuns e pu-los sobre a terra da caixa. Trataram logo de se enfiar nessa terra e no dia seguinte lá estavam os célebres funis de caça. Alimentei-os com formigas e passado muito tempo (já estava quase a desistir) tive o prazer de ver esvoaçar na caixa, dois belíssimos exemplares de formiga-leão adultos! NB: tive sorte, pois a vida de uma larva antes da metamorfose (vim a saber depois) , é de cerca de dois anos.
Os adultos são uns bichinhos encantadores que só voam à noite e se alimentam de seiva e de néctar de flores! Quem diria? São conhecidos por "paga-candeia", pois, ao esvoaçarem à volta de lamparinas e "podogós" acabam por os apagar.
Eis então em rodapé, fotos deste magnífico Neuróptero:
Gostei deste teu Post, e do anterior também. Sem dúvida que há nas mulheres daquele tempo o brilho de uma beleza especial (e não tem a ver com o grão, das fotos), algo de imaculado/puro/ingénuo/ não encontro as palavras certas para caracterizar a luz que aqueles rostos imanam, mas que já se perdeu.
ResponderEliminarQuanto aos "paga-candeia" a mim fazem-me lembrar libélulas, mas já vi que não tem nada a ver uma coisa com a outra.
Mas o mais interessante foi ter descoberto esse teu "outro lado do eu" não-Alupekiano. Pena que não haja mais gente a defender as vantagens de uma maior aproximação do Crioulo ao Português, a defender a etimologia como resposta adequada e lógica ao ensino do Crioulo, e a ortografia latina, enriquecendo o debate que, hoje mais do que nunca, está de regresso (pelo menso à Blogosfera).
Se tens trabalhos teus sobre este assunto, coloca-os na Net sff, ou manda-os para o meu mail. Tenho toda a curiosidade intelectual sobre esta matéria.
1ab
ZCunha
Grande amigo Zé!
ResponderEliminarFico-te muito grato pelas generosas palavras de apreço e incentivo. É notório a tua especial sensibilidade. Só tu haverias de captar a magia desses rostos traduzidos nessa luz que vai para além da qualidade do fotógrafo de então.
Estimo muito que comungues comigo a opinião da incongruência da ALUPEC com a defesa do bilinguismo. Sinto-me às vezes tímido em afirmar com mais força as minhas convicções por não ser esta a área de minha formação e não poder me valer do chamado "argumento de autoridade".
Não tenho ainda textos nesse particular, mas se os escrever, pedirei que os comentes antes de os publicar.
Pela nossa velha amizade
Jorge
Uma curiosidade: Kutum Ben Ben nos em algumas zonas dos Mosteiros, Ilha do Fogo é denominado por Mama Tutuxa e em S. Filipe por Tutu Barela.
ResponderEliminarCumprimentos,
OG
Valeu Óscar. Conhecia o "Tutu Barela" (nha dóna era di Fogo).
ResponderEliminarEm Santo Antão também se diz: "Carontchinha da Avó)