domingo, 14 de setembro de 2008

Papilio Demodocus, ou o rei dos lepidópteros de Cabo Verde

Acabo de vir do interior da ilha de Santiago e apesar das inúmeras imagens de beleza verdejante que recolhi, uma me deixou triste: "o bananal de Santa Cruz ... desapareceu!" As bananeiras foram todas dizimadas e só sobrou o campo de limoeiros para alegrar a paisagem. Mas são precisamente estes limoeiros que me trazem hoje o tema de meu artigo: o papilio demodocus.

Como já vos tinha dito, muitas das horas de minha adolescência, passei-as a estudar e a coleccionar insectos. E a ordem mais atractiva aos olhos é sem dúvida a dos Lepidoptera ou das borboletas e traças. Mais um livro da colecção "Ver e Saber" da Verbo, me ajudou a apreciar estes coloridos insectos. Em Cabo Verde encontramos uma variedade razoável de lepidópteros, desde vistosas borboletas diurnas, cinzentas "bambalutas" nocturnas, traças e singelas pequenas borboletas.

Já adulto, trabalhei no então INIA (Instituto Nacional de Investigação Agrária) e naquele tempo a luta integrada contra as pragas agrícolas era levada a sério. E por mais lindas que sejam as nossas borboletas, muitas delas são as progenitoras de lagartas perigosíssimas para as culturas (desde tomateiros, couves, batata, etc). Assim, foi com desgosto que me apercebi que muitas das nossas culturas estão a morrer porque ... talvez os bons velhos tempos do INIA já eram! Mas os limoeiros de Santa Cruz pareciam saudáveis. Será que não estavam a ser atacadas por pragas? Talvez o insecto responsável está quase extinto! Que pena diria o coleccionador de borboletas em mim. É que a tal praga do limoeiro não é nada mais nada menos do que a lagarta que dá origem à borboleta mais vistosa de Cabo Verde, o nosso Papilo do Limoeiro: o papilio demodocus.

Aliás, era o principal insecto da minha colecção. A lagarta deste animal é estranha e tem dois falsos olhos (as manchas que aparecerão nas asas mais tarde). Uma vez, recolhi algumas destas belíssimas lagartas (gorduchinhas) e coloquei-as numa caixa envidraçada onde tive o cuidado de inserir várias folhas de limoeiro. Poucos dias depois começou o processo da metamorfose. As crisálidas já não eram tão bonitas mas deixaram escapar mais tarde as lindas borboletas que ansiosamente esperava. Encontrei na Internet uma montagem de fotografias que retrata esta evolução e apresento-a ao lado.

Embora raras, as borboletas cabo-verdianas têm sido algumas vezes homenageadas e a filatelia não fica atrás, como podem ver pelos envelopes do primeiro dia pertencentes à minha colecção:



Como se pode ver, o papilio demodocus está representado no 3º selo do 1º envelope.

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