Qual a razão disso? Ei-la: minha mãe tinha perdido sua primeira filha durante o parto; durante a gravidez do segundo filho (Eu) o médico dera-lhe poucas esperanças; então ela fez uma promessa ao Senhor dos Passos, que, se tudo desse certo, passaria a ir todos os anos no Domingo de Ramos, às procissões e levar-me-ia consigo para que eu participasse nesse "agradecimento a Deus". Ao me lembrar disso, não posso deixar de pensar na frase que um amigo meu muçulmano proferiu em Nice, quando eu lá estudava: "os católicos fazem negócios com Deus!".
Mas a procissão do Senhor dos Passos era algo de espectacular. Na realidade essa procissão é chamada com mais propriedade de "Procissão do Encontro". Melhor ainda: a Procissão do Encontro de Nosso Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores. Em muitas regiões interiores do Brasil esta procissão se desenrola na 4ª-feira da Semana Santa. Aqui na Praia fazia-se no Domingo de Ramos. Eis uma descrição do evento:
Os fiéis (maioritariamente masculinos) saíam da Igreja de Nossa Srª da Graça, junto à Praça onde eu moro, com a imagem do Senhor dos Passos e as mulheres esperavam na Capela de Santa Isabel, no Hospital da Praia, donde iria sair a imagem de Nossa Senhora das Dores. Acontecia então o emocionante encontro entre a Mãe e o Filho. O padre, então, começava a missa, e a um dado momento proferia o célebre Sermão das Sete Palavras de Jesus Cristo na Cruz:
1. Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem. (Lc 23,34 a);
2. Hoje estarás comigo no paraíso. (Lc 23,43);
3. Mulher eis aí o teu filho, filho eis aí a tua mãe. (Jo 19,26-27);
4. Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?! (Mc 15,34);
5. Tenho sede. (Jo 19,28 b);
6. Tudo está consumado. (Jo 19,30 a);
7. Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito. (Lc 23,46 b).
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